sábado, setembro 18, 2010

Com calor, mas vivo em Tucson - relato 1


Hey, hey, hey, sim, sim, sim, ainda estou vivo.

Um pouco mais moreno, um pouco mais grisalho, mas vivo. Então, é com prazer que lhes escrevo o primeiro relato dos EUA. E este tem direito a método e tudo, já que agora sou um aspirante a pesquisador e passo a ter que administrar esta deformação profissional. Bom, na verdade, agora são duas deformações: a do administrador, que é ficar muito crítico a respeito de toda empresa da qual ele é cliente (coisa chata é ir com um grupo de administrador em um restaurante... Eles - eu junto - ficam reparando em todos os erros cometidos pelo lugar e sempre acham que estão pagando caro demais por aquilo); e a do pesquisador.

Mas, chega de desvios e vamos ao que interessa. E qual foi o método usado? FAQ, frequent asked questions, ou perguntas mais frequentes :-). Talvez a sua esteja ali.

O que você foi fazer aí mesmo (começando pelo básico, ou, como diria o pessoal da Dell, colocando todos na mesma página)?
Servir de mula na fronteira e, nas horas de fogta, PhD em Marketing (o primeiro é brincadeira, claro, mas fico feliz em saber que o sol ainda não queimou meus neurônios do senso de humor).

É quente mesmo?
Senegal é fichinha. E isso não é força de expressão. Falando com uma estudante senegalesa, ela disse que, por ser perto da costa, o Senegal chega a ser fresco comparado a Tucson.

E a cidade como é?
Mais ou menos. Tem partes bem feias, que lembram mais uma cidade sulamericana mediana – bairros residenciais pobres, estabelecimentos comerciais caidinhos, calçadas judiadas, etc. – e partes bonitas - centro, zona de compras, universidade. Tem também 2 Outlets há 1 e a 2h de carro, o que sempre conta a favor na percepção geral da cidade :-).

E a universidade?
Uma ignorância. Tudo do bom e do melhor. É outra cidade dentro de Tucson. Tem sistema de transporte próprio, paisagismo irretocável, shopping (com praça de alimentação, livraria e outros serviços), biblioteca 24h, hotel e estádio, entre outras facilidades. Algumas fotos dos lugares por onde mais passo estão aqui: http://www.facebook.com/album.php?aid=206234&id=514369506&l=1268034233

E o departamento de marketing?
Tem gente de peso mesmo e essa parte não tem preço. Ter aulas e poder “trocar uma idéia” com autores de alguns dos artigos mais influentes do marketing, segundo os “journals” da área, é, no mínimo, estimulante. Um dos professores (Sidney Levy), por exemplo, escreveu junto com o Kotler os primeiros artigos sobre os primeiros conceitos de marketing e a abrangência da área.

E o curso?
Suado. Estou fazendo 3 disciplinas completas (Teoria de Marketing, Métodos Quantitativos Básicos e Teoria da Sociologia I) e uma meia disciplina (Colóquio de Marketing). Dá umas 10-11 horas de aula por semana - o que é bastante humano - mas não dá menos de 30 de trabalho por fora. Em média, até agora, tenho lido aproximadamente 400 páginas por semana. Como, além disso, ainda trabalho como Assistente de um Professor Sênior, já viram que o bicho está pegando. Meu custo de oportunidade não é medido mais em dinheiro, mas em “quantas páginas eu poderia estar lendo agora, em vez de estar na merda da fila desse supermercado”.

E a vida universitária americana?
De tão parecido com os filmes chega a ser engraçado. Os pais vêm conhecer a faculdade com os filhos e ajudam-nos com a mudança; tem ensaio de cheer leader; tem armário pros estudantes; tem aquelas salas grandes em formato de auditório pras aulas com muitos alunos; tem as fraternidades dos Lambda-Lambda, do Delta-Sigma, do Alfa-Beta-Gama e do Pi-Pi-Pi. Aliás, tem tantas que tive que descobrir a origem de tanta criatividade. A versão que ouvi é a seguinte: as fraternidades criam seus slogans ou nomes (por ex.: Unidos Venceremos); então, eles convertem este nome para o grego e depois pegam apenas as iniciais gregas dessas palavras. Assim, são criados os interessantes nomes das fraternidades.

E a casa está montada?
Logo notei que uma casa – pelo menos para um dos componentes do casal :-) – nunca está pronta. É um projeto sempre em andamento. Então, talvez o mais adequado a dizer seja “sim, a casa está bem habitável e supre as necessidades básicas de seus moradores”. Fotos do condomínio aqui e da caminha diária até o bus aqui.

Já compraram carro?
Ainda não. Tucson, por ser uma cidade universitária, conta com um sistema de transporte razoável. Os ônibus não são tão frequentes quanto se gostaria, mas quando aparecem têm lugar pra bicicleta, ar-condicionado e são pontuais. Como complement, ainda oferecem "entretenimento". A quantidade de louco que anda de ônibus é impressionante. É uma fauna. O mais certinho acha que era assistente de Napoleão. E tem aquelas figuras que sempre pegam o bus no mesmo horário que você, como o Gago Pegador - um carinha que sempre pega uma guria pra conversar sobre música e vai tentando articular seus pensamentos, que não passam de 1 por minuto - e a Comedora de Gelo - uma senhora que carrega sempre um copão de Coca-cola cheio de gelo e vai devorando as pedrinhas durante a viagem.
Mas, enfim, espetáculos à parte, dá para depender desse tipo de transporte para o feijão com arroz (casa-universidade-casa), mas fica mais complicado para se fazer compras e dar uma passeada no final de semana. Começamos a procurar carro há uns 10 dias, mas tem sido um pouco mais difícil do que o esperado. Claro que é absurdamente mais barato do que no Brasil. Tem Honda Civic e Fit zero por U$16.000, tem BMW usado por U$10.000, tem Corolla usado por U$8.000, tem Jaguar 2004 (uma loucura aquele carro) usado por U$16.000. Tentadores, mas a idéia é comprar um carro compatível com o padrão de vida de estudante, ou seja, mais barato do que isso, para não mexer nas economias do Brasil. Vamos ver. Mas, se for para se perder na curva, aquele Jaguar que me aguarde :-PPPP. Se for para ser pobre e quebrado, que seja com classe hehe.

Já passearam?
O foco neste momento, até por não termos carro (ah, aquela Jaguar), está na cidade de Tucson mesmo, que tem algumas coisinhas para ver. Ainda faltam o zoológico, o museu do deserto, a Biosfera (uma enorme aldeia patrocinada pela universidade para o estudo de plantas e animais. É como uma grande estufa, isolada, onde foram introduzidas espécies para estudo) e outros pormenores. Mas, no feriado do trabalho (6 de set), fomos ao magnífico Grand Canyon. Passeio obrigatório para quem passar pela região. Iguaçu dá de 10 em Niágara no quesito “ignorância da natureza”, mas o Grand Canyon também surra o Itaimbezinho no mesmo quesito. E tem Sedona no meio do caminho, que é uma - com o perdão dos machões pelo adjetivo afrescalhado - graça. Uma Gramado no velho oeste. Fotos aqui.

E a Sibele o que está fazendo?
As aulas de inglês começaram dia 13/set. Ela fará curso numa escola de segundo grau e na biblioteca da cidade, o que dará 4 dias de aula por semana. No mais, está se saindo uma ótima gerente da casa :-)

E comida no Arizona?
Tem bastante restaurante étnico por aqui. Por convite, andamos tendo algumas experiências orientais até interessantes, mas ainda ficam na categoria de “de graça, é só chamar”. Tem também uma sessão brasileira num mercado asiático da cidade. Encontra-se farofa, erva-mate, pão de queijo e outras iguarias importantes para um momento de crise de abstinência.

E os novos hábitos?
Filtro solar todo dia antes de sair de casa, garrafa d’água sempre na mochila e almoço americano. Tem muita aula e mini-reunião no horário de almoço, é como se comer naquele horário fosse opcional. Tem sido inevitável adotar um almoço leve e rápido.
A coisa mais absurdamente barata que compraram?
Temos candidatos fortes.
- Na categoria valor absoluto (barato sob qualquer ângulo): um criado-mudo por U$7;
- Na categoria valor relativo (barato se comparado ao Brasil): uma impressora multifuncional Wifi por U$49 e roupa da Tommy por U$20. Mas a impressora e as roupas só estão aqui porque não comprei aquele Jaguar... Ah, aquela panterinha na frente do carro, ainda vou dar um jeito nisso para não desenvolver fixação. Malditos marketeiros desenvolvedores de símbolos de desejo :-)

Um grande abraço a todos vcs! E mandem as novidades também!

segunda-feira, julho 19, 2010

IGE: intercâmbio no Canadá e nos EUA


Comecemos sendo didáticos, afinal nem todos sabem o que fui fazer no Canadá e nos EUA. Bom, é possível que nem todos saibam que estive nos EUA e no Canadá :-). Então, este é o primeiro passo: aceite que, de 09/05 a 15/06, estive no EUA (estado do Maine) e no Canadá (estado de New Brunswick e em Toronto) e não considere uma traição o fato de estar sabendo apenas agora sobre isso.
Perdões concedidos, vamos ao que me levou a esses países. O Rotary International, uma das mais respeitadas ONGs do mundo, com direito à representação na ONU, coordena um intercâmbio de jovens profissionais entitulado IGE (Intercâmbio de Grupos de Estudo). Através deste programa, de 4 a 5 jovens profissionais - não rotarianos, mas escolhidos por clubes de Rotary de um mesmo distrito - são enviados a outro país para expandir suas fronteiras profissionais e culturais. Uma vez em outro país, estes jovens participam de visitas, passeios e reuniões culturais e profissionais. O melhor de tudo? É praticamente de graça (afinal, vocês não esperavam que o homem-bolsa tivesse pago por tudo isso rsrs). Mais informações em: http://www.rotary.org/pt/serviceandfellowship/fellowship/groupstudyexchange/
pages/ridefault.aspx


Feito o protocolo, posso dizer, sem exageros, que esta foi mais uma daquelas viagens que não cabem em um post, em um álbum ou em uma conversa. De toda forma, dei-me novamente a árdua missão de escolher alguns fatos para compartilhar com vocês de forma resumida, todos ilustrados por fotos em http://www.facebook.com/album.php?aid=182969&l=33fd549412&id=514369506

Quando alguém me conta sobre uma viagem, eu sempre pergunto: o que vc comeu e bebeu de diferente e o que fez de diferente. Provarei da mesma fórmula para responder.

COISAS DIFERENTES QUE COMI E BEBI
- Lagosta: carne suculenta, boa, mas “eita” trabalheira. Tivemos que assistir a uma palestra antes de comer e, mesmo assim, deram-nos aventais para evitar um estrago maior. O interessante é que, por ser bem mais acessível do que no Brasil, a lagosta está para os canadenses daquela regiáo como o churrasco está para nós, gaúchos. Algumas familias têm exatamente a mesma tradição do churrasco: comer todos os domingos. Detalhe que alguns comem a cascuda fria.
- Escargot: melhor do que eu pensava, mas, em resumo, o primeiro cara que comeu aquilo era definitivamente um sujeito de coragem (ou devia estar com muita fome em uma região sem boi, vaca, frango, peixe e porco).
- Vinho canadense: não é uma França ou Itália, mas, fruta que partiu, além de ter a segunda melhor qualidade de vida do mundo, os caras deram um jeito de produzir vinho! Bem que isso eles podiam não ter para juntarem defeitos que se somassem à neve, que normalmente cobre a janela das casas no inverno durantes vários meses.

COISAS INUSITADAS QUE FIZ
- pescar lagosta (ao que parece, fizemos um intensivo no assunto :-)): subimos no barco, fomos ao mar, recolhemos as armadilhas de lagosta, medimos as lagostas e devolvemos as armadilhas para o mar. Descobrimos que um bom pescador de lagosta não apenas fala fluentemente sobre sustentabilidade, mas também ganha uns U$100.000 por 2 meses de trabalho, que correspondem à temporada de pesca do dito crustáceo. Disso, podemos começar a entender uma das principais diferenças entre Canadá e Brasil: o nível cultural e financeiro da classe média. Enquanto a média da classe média no Brasil ganha U$12.000 no ano (R$25.000), no Canadá o salário minimo é U$24.000. Não é uma forturna, de certo, mas lembrem que os amigos do norte não gastam com escola, saúde e segurança. Isso explica eles poderem, mesmo sendo da classe média, seguir vida afora trabalhando e se dedicando a hobbies mais inusitados para nós, como tocar piano, produzir vídeos caseiros, fabricar cerveja em casa e velejar. Mas, voltando ao pescado, é claro que o tio da vara também tinha seu lado pescador tradicional e contava umas histórias e lendas. Uma delas diz que, antigamente, as únicas casas coloridas eram as que beiravam o mar e os rios. Isso acontecia para que elas servissem de referência aos pescadores, que precisavam delimitar civilizadamente suas áreas de pesca: a minha vai da casa amarela até a azul, a sua vai da azul até a vermelha, etc., etc., etc., até o arco-íris acabar.
- atirar com arma de verdade (com festim, mas já conta :-)): participamos do simulador de tiros da maior base de treinamento militar no Canadá. Em outras palavras, jogamos um video-game de gente grande (e bem forte, diga-se de passagem). Em suma, senti-me uma mulherzinha. Em situação de confronto, os militares carregam cerca de 15 quilos de arma e munição. Em situação de deslocamento, os caras chegam a carregar 50 quilos adicionais, compostos de arma, munição, roupa, mapa, instrumentos de navegação e primeiros-socorros e alimento. Quanto à base de treinamento, era sacanagem. Além do que já se esperava em termos de tecnologia e organização, havia um centro de condicionamento físico de nível olimpico (não raro, alguns militares seguem a carreira esportiva) e o acesso à base militar era simplesmente liberado. Não, eu não me enganei nem estou afirmando isso com base na minha entrada na base enquanto membro de um intercâmbio do rotary. A base simplesmente é aberta ao público que, em certos horários, pode fazer uso da academia dos milicos. Aliás, tal despreocupação é uma das principais diferenças entre canadenses e americanos. Ambos assistem aos mesmos seriados, noticiários, jogos, novelas e comem comidas muito parecidas, mas os últimos são os fanáticos por segurança que todos conhecemos, enquanto os primeiros vivem em outro planeta, junto com a Suiça e os países nórdicos.
- visitar uma mina subterrânea: fomos a um depósito de sal e potássio a 700 m de profundidade. Não imaginava que existia um mundo tão vasto – e inóspito – abaixo dos nossos pés. Senti-me em Zion, no Matrix. Gente indo e vindo. Cabos de telefone, banheiros químicos, máquinas, esteiras. Só para dar uma idéia, do início da mina até o final, na largura, andamos aproximadamente 5 km em um jipe. Aliás, a estrada por onde andamos tinha 2 mãos em vários pontos. Claro que o trânsito não era intenso, mas as duas mãos eram necessárias para um dos jipes não ter que voltar 5 km de ré caso encontrasse um concorrente. Ficamos 4 horas na mina. Tempo suficiente para ter saudade até da chuva.

PARA ALMEJARMOS
- burocracia: adivinha quanto tempo um empreendedor leva para obter o CNPJ canadense? Resposta (de chorar): online. O amigo coloca os dados da empresa, o capital de cada sócio, o endereço da empresa e “click”. As obrigações mais pesadas só virão no momento da declaração do IR. Além disso, o governo te garante 1 ano de salário para que você possa tocar o negócio com mais tranquilidade. Pega um lenço vai. Estou vendo suas lágrimas daqui.
- salário dos políticos: prefeitos e membros do parlamento estadual (equivalente ao nosso deputado estadual) ganham em torno de U$11.000 por ano. Vou deixar você fazer a conta de quanto um dos nossos ganha por ano e fazer um minuto de silêncio – não de respeito, mas de praga - aos políticos no Brasil.
- educação: o atual dilema educacional do Canadá é o bilinguismo (problemão, hein??!!). Diferentes provincias têm testado diferentes métodos de ensino da segunda língua. Em New Brunswick, no entanto, os testes assumiram alta prioridade por se tratar da única província oficialmente bilíngue do Canadá (o Québec é francês e todas as outras são inglesas). Até pouco tempo, as duas línguas eram ensinadas simultaneamente. No entanto, notou-se que os estudantes submetidos a tal método tendiam a não conseguir distinguir quando estavam usando uma língua ou outra. Eles simplesmente misturavam as 2 línguas indiscriminadamente nas mesmas frases, tanto na língua falada quanto na escrita. Em resumo, estava-se formando um terceiro idioma a partir da mistura do francês com o inglês. Isso não é mto diferente do que ocorreu com inúmeros outros idiomas (o galego é uma mistura do português com o espanhol, o catalão é uma mescla do espanhol com francês, etc.), mas os canadenses não curtiram a idéia de gerenciar um 3º idioma no país. Então, depois de muita discussão e testes, o método atualmente em vigor é alfabetizar em uma língua e depois em outra. Assim, as famílias que querem alfabetizar suas crianças primeiramente em francês as colocam nas escolas francesas. As que priorizam o inglês colocam suas crianças nas escolas inglesas. Somente a partir do 3º ano – com margem de erro de 1 ano, já que não tenho certeza e não quero passar por mentiroso – as crianças passam a aprender a segunda língua. Como parte desse modelo, as famílias são recomendadas também a falar apenas uma língua dentro de casa com as crianças. Pragmatismo à parte, isso gera situações inusitadas, como duas crianças de 4, 5 ,6 anos não conseguindo se comunicar por falarem línguas distintas.

PARA NOS SENTIRMOS NORMAIS
- eles também conhecem a crise do 7º ano de casamento. Erhhhh, ahmmm, a propósito... assunto nada apropriado para o momento :-).
- eles também compartilham o estereótipo da loura burra. Parece que tal imagem está espalhada, no mínimo, pelo ocidente inteiro. Culpa da Sra Monroe??? Alguém moreno arrisca uma explicação :-)???

E vamos ficando por aqui! Abraços e Beijos a loiros e morenos!

Obs: aguardem notícias do Arizona! (ah tá, vai dizer que também não sabe que estou me casando com a Sibele e indo fazer doutorado nos EUA em agosto? Bom, então essa fica para o próximo post, desde que voce me perdõe por não ter contado essa novidade também).

terça-feira, janeiro 26, 2010

Panamá: mais um país de contrastes

A primeira pergunta pode ser: o que leva alguém ao Panamá? Calma, calma, tudo tem uma explicação.

Desta vez, a viagem foi pela empresa, o que não impediu este bom viajante de investir sua energia turística para conhecer alem do que os compromissos profissionais tinham a oferecer.

Comecemos pelo inusitado. No Panamá, não tem caixa de correio (e nem carteiro, obviamente). Em vez disso, cada cidadão tem uma caixa postal em agências do governo. Então, de vez em quando, você tem que dar um pulo até este tal posto para verificar se recebeu algo. Prático, não :-) ? Ofereçamos um salve à família real portuguesa.

Outro inusitado: o transporte da cidade. Primeiro, os ônibus operam num modelo que mistura táxi, ônibus e caminhão. Explico. O governo vende autorizações para pessoas que querem operar ônibus (assim como se faz com os taxistas no Brasil). Essas pessoas compram a permissão, adquirem um ônibus e passam a atuar na área e na rota combinada (como um ônibus). Problema um: não tem horário marcado. O bus pode passar o dia inteiro como pode resolver não passar naquele dia. Passa a hora que quer e o dia que quer. Problema dois: você realmente acha que é o cidadão comum que compra a permissão e o ônibus? Claro que não. São alguns “empresários” que, em seguida, contratam motoristas (como as lotações no Brasil). E como são remunerados os motoras? Agora vem o melhor... É remuneração variável, ou seja, quanto mais passageiros eles pegarem, mais eles ganham. Resultado: os motoras trabalham o máximo de horas que podem (estilo caminhoneiro) e brigam ferozmente por passageiros. E não acabou. Está imaginando ônibus padronizados, com a rota escrita na frente e tudo mais? Nãnãnão. Cada motora/empresário pode pintar o veículo como quiser (estilo caminhoneiro), colocando frase, apelido para o “diablo rojo” (o termo usado pelos nativos para se referirem aos ônibus), caricatura de celebridades, patrocínios e grafite. É algo tão peculiar que virou atração turística, seguindo a mesma linha do fenômeno das favelas, em que a desgraça ou deficiência social vira ponto turístico. No entanto, para a infelicidade dos amantes do pitoresco, os “diablos rojos” estão com data marcada para desativação: ao longo de 2010, o governo do Panamá implantará um sistema mais organizado (comparativamente, nada muito difícil de ser feito, diga-se de passagem) de transporte público.

Agora vamos aos táxis (ou vc achou que logo os táxis, logo eles, seriam organizados?). Até o ano passado, eles não tinham cor nem sinalização (apenas os mais espertos faziam isso, claro). Não me pergunte como os passageiros os identificavam. Atualmente, eles são amarelos, mas guardam suas idiossincrasias. Primeiro ponto: o taxista pode simplesmente dizer “não te quero”. Se você não oferecer uma rota rentável, ele pode simplesmente se negar a te levar (nada pessoal, claro) e te desejar boa sorte na procura por um companheiro que te queira. Segundo ponto: o táxi pode ser compartilhado. Se você pegou um táxi e, ao longo da sua rota, outro cidadão faz sinal ao taxista, o taxista pode parar e colocar esta outra pessoa no carro com você. Alguns locais dizem que o taxista pode até pedir para você sair do carro, caso o novo passageiro solicite uma corrida mais rentável. Nem preciso dizer que os veículos não têm taxímetro. É na base de uma tabela mental e secreta detida apenas, claro, pelos próprios taxistas.

Descrito o mais inusitado, neste momento, por culpa minha, você deve estar pensando que o país é uma selvageria. Engana-se esfericamente (a não ser quando as pessoas estão tentando entrar no ônibus). É apenas mais uma nação recheada de desigualdades, fato evidenciado pela posição de segundo país com pior distribuição de renda na América Latina (algum palpite sobre quem é o primeiro?). De um lado, cortiços e desorganização. Do outro, a Dubai das Américas. Os caras acabaram de aterrar quilômetros de costa para construir uma via beira-mar enorme, com vias largas, calçadão e arranha-céus. Ok, ok, não são prédios com 100 andares, mas, meu amigo, 50 andares é o padrão. E não é 50 andares no estilo “Voluntários da Pátria”. Os engenheiros e arquitetos estão botando os neurônios da criatividade para funcionar. Tem até prédio – já em construção – em forma de rosca-espiral. Loucura, loucura no caldeirão.

O Panamá também conta com bons serviços de restaurante e comércio. Come-se e compra-se bem e barato, fato influenciado significativamente pelos baixos impostos sobre venda e circulação de mercadorias (em torno de 5% para todas as categorias de produtos e serviços). Outro traço forte é a diversifidade racial. Além da mistura inicial entre os espanhóis colonizadores e os indígenas locais, ao longo do século XX inúmeras outras etnias chegaram ao país, principalmente em virtude da construção do canal do Panamá. Primeiro, foram os franceses, que iniciaram a construção da passagem e que sucumbiram às doenças e às intempéries climáticas da região. Em seguida, vieram os americanos, gregos, italianos, chineses, dominicanos, colombianos e outras pessoas cuja nacionalidade não sei escrever (se alguém souber como se chama o nativo da Martinica e/ou das Antilhas, ilumine minha ignorância).

Dentre tais etnicas, os americanos, claro, deixaram uma marca bastante profunda. Para se ter uma dimensão de sua influência, o dólar é a moeda corrente do Panamá, muito embora a moeda oficial seja o Balboa (nome do primeiro explorador espanhol a cruzar o Panamá e chegar ao lado do Pacífico e sem relação alguma com o Stallone). Os americanos chegaram ao Panamá no início do século XX para o início das obras canaleiras e ali permaneceram legalmente até 1999, controlando não somente as terras do canal como qualquer 5 milhas a leste e a oeste ao longo dele. Os panamenhos simplesmente não tinham o direito de acessar esta faixa de terra, o que foi motivo de vários conflitos, principalmente no final do século passado. Por outro lado, esta presença americana estimulava diversos setores da economia, como construção civil e comércio, que se desenvolveram para atender a um público de maior poder aquisitivo. Os taxistas, por exemplo, ainda ressentem a ocupação ianque, tendo em visto as “tips” generosas que recebiam. Outra herança americana curiosa são os “gringuinhos”, filhos e filhas de militares americanos que ficaram órfãs de pai após a desocupação americana.

E como falar do Panamá sem falar especificamente do canal do Panamá? Hoje, esta via marítima é uma das – se não a – principais fontes de renda do país (aproximadamente 20% do PIB do Panamá). O maior “pedágio” já pago por uma embarcação no canal foi de U$467 mil, efetuado por um navio de cruzeiro, e, em média, os navios pagam de U$200 a U$300 mil por travessia. O movimento no canal é tão grande que o país parece que está prestes a ser invadido. Quem olha da terra para o mar, enxerga uma frota de navios constantemente cercando o país, aguardando sua vez de cruzar o canal. Ah, vale ressaltar que nenhum navio entra na via nas mãos de navegadores que não sejam os próprios práticos (nome dado ao motora do navio) do canal. Estes práticos são diariamente escrutinizados pela empresa administradora do canal a fim de garantir que eles estão no auge de suas faculdades mentais, afinal, nem se pode pensar em um incidente de manobra que venha a prejudicar o funcionamento do canal.

O canal do Panamá tem aproximadamente 80 km de extensão. Ele rasga o estreito país de leste a oeste (certamente o Green Peace não existia na época da construção) e, curiosamente, não foi construído em uma área totalmente plana. Então, para possibilitar que os navios cruzem o canal por um rio desnivelado, existem mini-represas que se enchem e se esvaziam para elevar ou baixar a embarcação. Para tanto, existe também um super-lago artificial, que fornece a água para as mini-represas se encherem e se esvaziarem. Para quem já foi a Itaipu, a grandiosidade do canal lembra um pouco a construção e a estrutura da usina hidrelétrica. É uma obra de utilidade inquestionável (o canal reduz o tempo de viagem de uma embarcação que quer cruzar do Atlântico ao Pacífico de 2,5 semanas para 8 horas), mas (ando meio ecológico ultimamente) que dá medo. Os caras rasgaram o continente. E o que eles fizeram com as rochas e a areia retiradas para a construção da mega-obra? Juntaram a cidade do Panamá a 3 pequenas ilhas, que ficam a 5 km de distância, através de um “mole” para carros. Esteticamente, ficou maravilhoso. É uma estradinha que cortar o mar até estas ilhas, onde existem restaurantes, casas noturnas, lojas e marinas. Mas, não deixa de ser mais uma plástica realizada em um país radicalmente alterado.
Ecologia à parte, sem dúvida foi mais uma bela experiência latino americana. De toda forma, já que o destino da vez se mostrou um pedaço de terra refeito, recortado - e a falta de criatividade bateu forte - vou ficando por aqui, com um parágrafo corta... ao me... Tudo em nom.. da correlaç.. retórica entre text. e assun... :-).
De completo, só um novo salve aos correios brasileiros!
Fotos? Algumas aqui http://www.facebook.com/album.php?aid=140224&id=514369506&l=eade0c6045