sábado, agosto 20, 2011

San Diego e os parques californianos



Algumas pessoas sugeriram que eu colocasse um resumo do destino antes do texto. Então aí vai a ficha:



Cidades principais: San Diego e Anaheim - California, EUA
Período: Julho de 2011
Viajantes: Sibele, Dona Cida (mãe), Dona Ieda (sogra)
Atrações mais populares: Sea World, Zoológico de San Diego e Disney California.
Fotos: http://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150269216819507.345687.514369506&l=65d4bc0020&type=1

Alguns de vocês podem já ter visto as fotos dessa viagem no Facebook ou Orkut (sim, ainda me dei o trabalho de postar no moribundo Orkut para mostrar que respeito às origens das redes sociais no Brasil e que não me entrego tão fácil à moda), mas ainda acho que as 1000 palavras que uma imagem vale podem não ser as mesmas 1000 que você quer dizer, certo? Assim, seguindo a tradição, vamos ao texto, ainda que após imagens. Comecemos pelos parques da Califórnia e depois passemos à cidade de San Diego.

O mundo Disney já é conhecido, pelo menos de fama, para muitos. Túneis para os funcionários e materiais indesejados circularem fora da vista dos visitantes, mudanças constantes de ambiente para reduzir a percepção do tempo de espera na fila e a não venda de chicles para evitar aquelas manchas no chão ilustram o tipo de atmosfera que se tenta criar. Tem também o desfile de personagens, o castelo da Bela Adormecida no meio do parque, o Pateta, o Mickey, a Mini e outros personagens simpáticos circulando pela multidão e posando para fotos (nota à parte: o calor que eles devem passar não é pouco. Feliz são os funcionários que se vestem de Peter Pan ou Tarzan).

O que eu nunca havia botado fé nos parques Disney é o tal show de fogos. Uns estouros aqui, umas cores no céu acolá, não tem como ser muito diferente disso, pensava eu. Além disso, o show é com o céu já escuro, o que significa permanecer no parque até as 9h da noite. Mas, como dessa vez havíamos chegado relativamente tarde na reunião com o Pluto, decidimos segurar as pontas, jantar na casa da Mini e esperar até o tal show. Arrependimento zero. O espetáculo de 30 minutos é uma mescla de luzes, som, e efeitos especiais dignos de uma empresa que vende sonhos e memórias. Fogos com formas e cores que parecem ter sido criadas por computação gráfica dançam ao redor do castelo da Bela Adormecida, que é sobrevoado de tempos em tempos pela Sininho e pelo Dumbo (não sei por que a Mary Poppins foi excluída da brincadeira). Ao fundo, toca uma música sobre acreditar nos sonhos. Arrisco dizer que até o mais macho dos machos, aquele que não come mel posto que aprecia chupar a abelha, usaria o adjetivo encantador para descrever o negócio. O show faz jus ao fato de que o castelo com os fogos ao fundo é o símbolo da Disney.

Mas saiamos do mundo onde ratos, patos e cachorros falam e dão autógrafos e vamos ao mundo dos animais reais: o zoológico de San Diego. A primeira observação a ser feita é que o nome zoológico é apenas para manter a tradição, pois se trata de um parque de diversões cujo tema é o mundo animal. Tem teleférico, ônibus turístico de dois andares, sessões especiais para quem alimentar os animais e até escada rolante para te levar da África ao Pólo Norte ou da América do Sul a Oceania. Se você cansar ou passar mal (tivemos que perguntar isso em virtude da temperatura e da idade de alguns dos viajantes), eles te buscam e te levam de carrinho elétrico pelo resto da visita (mais detalhes sobre meios alternativos de transporte dentro dos parques no PS 1, mais abaixo). O zoológico é considerado um dos maiores do mundo e têm espécies que raramente são encontradas em cativeiro, como os ursos Panda, Coala e Polar. O urso festeiro (ou vai dizer que as olheiras do Panda são de tanto estudar?) é tratado como super star. Tem hora especial de visitação, hora especial de alimentação, apenas um panda por jaula e você não pode fazer barulho na área dele. Os visitantes têm que seguir o fluxo da fila que é ditado por um dos 6 ajudantes de Panda, que além disso cuidam da sua restrita alimentação dele (apenas bambu).

Se o zoológico é impressionante e consegue passar a idéia de uma possível harmonia entre humanos e animais, esta atmosfera é elevada ao cubo no Sea World. Além de toda essa questão de organização, limpeza, animais e famílias felizes, aqui os humanos trocam carícias (quase fazem amor) com orcas, golfinhos, leões marinhos e lontras. A relação entre os treinadores e aqueles animais – teoricamente selvagens - beira a telepatia. Você jura que vê os bichos sorrindo de tão felizes que eles parecem estar em obedecer aos comandos humanos! Apesar de ser uma relação de egoísmo, visto que todos os animais do Zoo e do Sea World poderiam estar desfrutando das maravilhas da liberdade em vez de serem protagonistas de um show, é difícil para o mais cínico dos seres humanos não se sensibilizar com a harmonia transmitida pelos espetáculos. Você sai do parque achando que o mundo tem jeito (eu pelo menos pensei assim até o próximo noticiário) e torcendo que tais experiências repercutam na educação ambiental dos visitantes para além dos limites do parque.

Não sei se por ser uma extensão ou a origem de todo essa atmosfera, San Diego também possui alguns elementos harmônicos que chamam a atenção especialmente por se tratar de uma grande cidade. Em algumas das praias é possível encontrar leões marinhos descansando na areia a apenas alguns metros dos banhistas. Existe também uma harmonia entre o pequeno e o grande em San Diego. Apesar de ser repleta de autovias gigantes, americanos dirigindo pick-ups e franquias de fast-food, San Diego possui várias regiões que conservam ares de cidade pequena com lojas e restaurantes locais, microcervejarias, e, o mais impressionante, lugar para estacionar de grátis no centro (há tempo não via isso!). A Ilha de Coronado é exemplar nesse aspecto: calçadão, ruas floridas, casas novas e antigas, restaurantes à beira mar e praias para todos os gostos, sem falar no próprio Hotel Coronado, cujo vermelho do telhado provoca um efeito visual marcante ao contrastar com o branco da areia e o azul do mar (parece até um início de bossa nova isso).

Não contente em ter todas essas atrações, San Diego é conhecida como a cidade com o melhor clima dos Estados Unidos. A temperatura no verão fica em torno dos 30 e tem sempre uma brisa. No inverno, raramente baixa dos 15. E, para dar nojo, tem ainda o Parque Balboa, com um roseiral impecável - que no Brasil não duraria, muito infelizmente, nem 12 horas até que cada transeunte pegar uma muda para sua casa - e um conjunto arquitetônico impressionante.

Em resumo, se você é daquelas pessoas que, no meio das férias, sempre pensa em largar tudo e virar vendedor ambulante só para trabalhar de frente para o mar com uma brisa sem grandes responsabilidades, não vá para San Diego que é capaz de os pensamentos te escravizarem. O único senão é ter que conviver com as camisas floridas, meiões brancos, bermudas beges e tênis para trombose que esses americanos insistem em usar. Mas, acho que está valendo...

PS 1: Dica para os pão-duros e caras-de-pau de plantão: em vez de comprar aquele passe especial que te dá prioridade nas filas dos parques, é só alugar uma cadeira de rodas. É menos da metade do preço e você passa na fila até mais rápido. Juro que descobrimos isso sem querer e hesitamos (por 0.5 segundos) em usufruir dos benefícios, mas que curtimos a idéia depois do fato consumado não dá para negar. E o melhor é que um cadeirante dá direito a todos acompanhantes passarem junto.

PS 2: sim, ainda faço doutorado e a vida não é só viagens. As aulas começam dia 22/08 e as disciplinas desse semestre são etnografia, aspectos psicológicos do consumidor e sociologia da cultura. Que venha o segundo ano!


PS 3: também fomos a Los Angeles, mas o post anterior do blog já cobre essa cidade. Perguntaram-me, entretanto, sobre o Bubba Gump (aquele restaurante de camarões que o Forrest Gump abre com seu Tenente após retornar do Vietam). Esse restaurante foi fundado após o filme, ou seja, é a vida imitando a arte. No entanto, vale a diversão. Fica no pier de Santa Mônica, tem um banco com caixa de chocolates e um Nike Branco para tirar fotos e os cardápios são em formato de raquete (se não entendeu o motivo, fica o convite para assistir Forrest Gump novamente).

Saudações empoeiradas de Tucson!

sábado, junho 04, 2011

Las Vegas e Los Angeles





O primeiro ano de doutorado se foi e, para celebrar o feito, uma ida com Sibele, Zeca e Núbia a Los Angeles e Las Vegas foi feita. Maiores detalhes sobre a cidade dos anjos e a cidade do diabo está abaixo.

Las Vegas – ou Vegas para os íntimos
Se você, assim como eu, não é fã de jogos de aposta nem de lugares que descaradamente simulam realidades de outros locais - existe um famoso artigo científico sobre a “cópia de realidade” criada em Las Vegas chamado “May the farce be with you” - você vai resistir a Las Vegas... até você entrar lá.

Chegando pelo Sul você quase passa desapercebidamente pela placa “Welcome to Fabulous Las Vegas”. Logo após, dois prédios em forma de barra de ouro compõem o complexo do Casino/Hotel Mandalay Bay, cujo tema gira em torno do luxo da natureza. Dali em diante, o mundo urbano ocidental está condensado em 2 quadras de casinos que simulam algumas das principais cidades e pontos turísticos do nosso imaginário. Em Vegas, você pode ir a Veneza, Paris e Nova York em 5 minutos. Enquadrando a sua câmera fotográgica corretamente, você consegue facilmente tirar uma foto para contar aos amigos que andou por estes lugares sem ter nunca ido até lá. A foto da Torre Eiffel na verdade fica até melhor.

Nesta quadra-mundo, não é apenas o espaço que está condensado, mas também o tempo, que é constantemente distorcido. O Ceasar Palace - provavelmente o maior dos casinos pelo menos em tamanho - tem como tema Roma Antiga. Próximo a ele está o Treasure of Island, cujo tema são piratas, e o Cosmopolitan, que dá ares de um inferninho futurista com garotas dançando em nichos suspensos, iluminação fumê e uma coleção abundate de cristais ao longo da sala principal de jogos. Se é noite e você quer dia, vá ao interior do The Venetian, onde os canais de Veneza e a praça de São Marcos estão sempre entardecendo. Você também pode ir a um trecho da Freemont Street chamado Freemont Experience, onde uma gigantesca tela côncava cobre a rua projetando mensagens, publicidade e imagens em cores sempre saturadas. Se é dia e você quer noite, essa é fácil: escolha qualquer um dos casinos.

Para as pessoas perderem a noção do tempo, os casinos aplicam a eficiente fórmula: pouca iluminação - janelas - relógios nas paredes + garçonetes ativas + barulho o tempo todo = que horas são isso mesmo?. Nesta equação, o constante barulho das máquinas serve como lembrete ao jogador que mais alguém acaba de ganhar, dando a sensação de que, se ele jogar só mais um pouco, sua vez de ganhar chegará. Os casinos são 24 horas não apenas em termos de horário de trabalho, mas de horário de consumo. Minha resistência física não me permitiu dar uma idinha ao salão de um casino no meio da madrugada para ter certeza de que o negócio estaria bombando, mas a partir das 8:30 da manhã a hipótese está confirmadíssima. O movimento nestas horas teoricamente indigestas para ojogo impressiona. As garçonetes seguem trazendo bebidas alcólicas de graça (eu me pergunto o que elas diriam se alguém pedisse leite) como se fosse 10h da noite, contanto, claro, que você esteja jogando. Aliás, esta é maneira mais barata de se beber em Las Vegas. Você pode comprar 50 centavos em fichas e jogar bem devagarinho nas máquinas (1 centavo por vez) enquanto você pede bebida pras garçonetes. Você deve ter notado que eu só falei em garçonetes. Coincidência? Claro que não. O decote delas e o tamanho dos peitos também não são. Curioso deve ser observar o processo de recrutamento e seleção nos casinos. Peito P ou M? Funcão X, Y e Z. Peito G ou GG? Função A,B e C.

Toda esta condensação de espaço e distorção de tempo é acompanhada por um apelo especial a jogo, fumo, bebida e sexo. Não é a toa que a cidade tem o apelido de Sin City, a cidade do pecado. Até então, eu achava que, se o capeta tinha uma morada na Terra, ela se localizava em Amsterdam, mais precisamente no Red Light District. Neste distrito, igrejas, estalecimentos comerciais “inocentes” e famílias passeando se misturam com sex shops, museus de objetos fálicos e garotas convidativas (convidando que você conheça o escritório delas). Porém, comparado a Vegas, o tal distrito da capital holandesa parece mais um campo de batalha entre Deus e o Diabo do que a morada oficial do cramulhão. No Red Light os dois parecem ainda ironicamente conviver. Mas, se o capeta tem residências aqui na terra do meio, uma delas certamente é uma suíte presidencial em algum dos casinos da Main Strip (a rua principal de Vegas). Em Vegas, o capeta tomou conta geral ao oferecer a possibilidade de prazeres controlados por preços acessíveis. Quer apostar e ganhar dinheiro sem trabalhar? A partir de 1 centavo você pode usar as máquinas e tentar a sorte. Quer atirar? Por U$25 você pode escolher entre um rifle ou pistola semi-automática para dar 20 tiros em uma loja de armas. Quer voar de helicoptero? U$29 são suficientes para uma rápida volta em torno do Lago Mead, a parte represada do Rio Colorado que é a principal fonte de água para o Sudoeste dos Estados Unidos. Limosine? Sai um pouco mais caro do que os demais prazeres, mas por U$60 ja dá para rodar uma hora dentro daquela linguiça ambulante pelas ruas iluminadas de Las Vegas. Mas Vegas não é só sexo, drogas, bebida e jogo. Tem também o consumo mais “normalzinho”. Os mais santos podem se divertir um dia inteiro pecando em um dos Outlets que circumdam a cidade. Enfim, é difícil escapar. O capeta é perspicaz e ardiloso. Aí, se você conseguir sair de Las Vegas ileso e quiser ir embora, você novamente passará pela placa “Welcome to Fabulous Las Vegas” desta vez com mais atenção. A dúvida será se o fabuloso é de espetacular, único e estonteante ou de fábula mesmo, algo que não existe, hiperreal, onírico, com personagens fictícios que viajam no tempo e no espaço e que podem ficar ricos em um passe de mágica. Talvez os dois.

Fotos:http://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150201577264507.326744.514369506&l=0ce05612c1

Los Angeles


A primeira característica que chama atenção são os anéis viários da cidade (até porque é a primeira coisa que um visitante vê). Quatro pistas de cada lado da estrada é normal. Alguns trechos chegam a ter 9 pistas de cada lado, causando uma sensação de tontura em motoristas menos cosmopolitas, principalmente quando os nativos costuram ultrapassagens acima do limite de velocidade. Mesmo assim, o fraco transporte público da cidade não permite um trânsito fluido. Engarragamentos são comuns - apesar de não serem quilométricos - e os motoristas adoram uma buzina. Sinais típicos de uma metrópole impaciente.

Contrastando com o cinza das estradas está o verde das colinas de LA. As estradas na verdade cortam e se entrelaçam com as colinas. Então, de tempos em tempos você “desce” por uma saída e chega a uma parte da cidade, que, apesar do estresse de uma grande metrópole, tem seus atrativos. Aquela imagem de LA do Stalone Cobra, uma cidade insegura e violenta precisando de uma “cura para uma doença” (que pérola de frase do Silvester), não existe mais ou pelo menos fica bem escondida. As cidades vizinhas deLA também têm seu charme, algumas delas encarnando o estereótipo do sonho americano. Em Glendale, uma das pequenas cidades da grande LA, visitamos por acidente um shopping chamado “The Americana” que nos tirou do eixo. Chegamos lá depois de entrar por engano em um rua sem saída que, na verdade, era uma entrada para um estacionamento pago. Este estacionamento acidental tinha uns 5 andares, uma rampa de acesso com 3 pistas e um bando de motoristas “metendo por fora” para chegar mais rápido às escassas vagas. Completada a missão de estacionar, pegamos um elevador mágico que nos largou no meio da cidade perfeita: show de águas, monumento aos soldados americanos, crianças assoprando bolinhas de sabão em um gramado tão verde quanto o da casa de verão da Família Real Inglesa, postes nostálgicos de iluminação pública da década de 50, vendedores das lojas usando gravata borboleta, avental e chapéu de marinheiro, bonde elétrico e música estilo Frank Sinatra tocando em pequenas caixas de som espalhadas pelas ruas do bairro encantado. Ninguém tinha defeito em “The Americana”. A sensação que tínhamos era de que se uma criança chorasse ela seria imediatamente removida por estar atrapalhando o clima. A comparação mais próxima que conseguimos chegar foi o “Show de Truman”, aquele filme estrelado pelo Jim Carrey em que ele vive em um mundo perfeito que, na verdade, é cenário de um reality show.

Inúmeras atrações culturais mescladas com atrações naturais também compõem o cenário de Los Angeles. Bons museus e belas praias estão à disposição dos visitantes. Em particular, Santa Mônica atrai uma pequena multidão para o seu pier, que oferece um mini parque de diversões, vendedores ambulantes, artistas de rua e uma filial do Bubba Gump, que explora bem a sua relação com o filme Forrest Gump. Na frente deste restaurante de camerões que Forrest teria fundado com o Tenente Dan em homenagem ao seu melhor amigo Bubba, há um banco de madeira com um pacote de presente, uma pequena mala, e um tênis branco da Nike de concreto para você entrar no filme por alguns instantes.

Falando em filmes, não esqueçamos que Hollywood fica do ladinho de Los Angeles. A calçada da fama, os estúdios e o Kodak Theatre estão entre as principais atrações da região. Em frente ao Kodak Theatre, pessoas se apoderam da calçada para tirar fotos ao lado daquelas estrelas com os nomes dos artistas. Em paralelo, artistas de rua fantasiados de Batman, Homem-Aranha, Jack Sparrow (Piratas do Caribe) e Michael Jackson dão um toque maior de realismo (?) e deixam você tirar um foto com eles em troca de uma doação qualquer.

Por último, saindo (parcialmente) do mundo da fantasia e dobrando à esquerda você chega a Beverly Hills, seus famosos moradores e suas sumtuosas casas. Para otimizar o tempo do passeio por lá optamos por comprar uma mapa da casa dos famosos, já que não esperávamos placas apontando “aqui casa da Madonna” ou “siga reto para Jack Nicholson”. Pagamos dolorosos U$7 pelo tal mapa da mina, que ficaram mais dolorosos quando chegamos à Beverly Hills e fomos lembrados pelas paredes das casas das estrelas que a maioria dos ricos gosta mesmo é de privacidade. A parte mais visível das casas era o telhado e a caixa de correio. Disapontados com a falta de sensibilidade das estrelas que não querem expor suas vidas aos milhões de turistas e paparazzi que circulam por lá, deixamos a parte residencial de Beverly Hills para dar uma passadinha pelas grifes e vitrines da Rodeo Drive. Lá, tudo era visível, mas de vísivel para atingível o caminho é grande... Eu até quis dar um anel da Tyffany para a Sibele, mas ela não aceitou. Só nos restou ir embora e jantar uma cebola no Outback. Aposto que os ricos não sabem o prazer que aquela cebola dá.

Fotos: http://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150201587449507.326748.514369506&l=660e688373

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Aquele do pós-semestre e pós-atentado - Relato 2


Depois de 6 meses, uma meia biblioteca lida, 0.5 a mais de miopia e um tiroteio, seguimos fortes e avantes.

Começando pelo tópico mais quente – o débio mental que saiu atirando – nós não estávamos na cidade. Estávamos voltando da Carolina do Norte e chegamos em Tucson à noite. Soubemos da notícia pelo motorista da Van do aeroporto, que, na esperança de ganhar uma gorjeta, puxou assunto conosco. Esperança infundada a dele, mas sempre admiro os otimistas. A TV por aqui não fala em outra coisa. Até o Obama está vindo para Tucson a fim de participar de um serviço memorial fúnebre. A proporção de espaço na mídia é a mesma do Caso Isabele, com um pouco menos de especulação e mais de comoção.

O segundo tópico quente – quente = recente, importante; não referente à temperatura – foram as férias com uma parte da família que também está por aqui nos EUA, mais precisamente na Carolina do Norte. Como a primeira frase do parágrafo deixa escapar, estava o frio do cão. Agora que moramos no “Nordeste” dos EUA – que fica no sul :-) - não estamos mais acostumados com isso e foi sofrido. Durham estava frio, mas tínhamos a casa dos anfitriões (meu irmão e cunhada) pra nos esquentar e não ficávamos o tempo todo na rua. Já em Washington DC, a terra do Obama, achava que tinha perdido meu nariz e minha orelha todos os dias. Eles chegavam a ficar sem circulação. Sei que o primeiro membro do meu corpo supramencionado não é coisa pequena, mas acreditem que estava frio mesmo. Mas, turista bom não se rende a intempéries climáticas – principalmente os que nasceram com o Minuano soprando lá de Uruguaiana – e fomos à luta, desbravando a belíssima capital americana. Com encantos diferentes, acho que Washington não fica nada longe de Nova York em termos de atrativos culturais e beleza. É limpa, tem uma arquitetura neo-clássica - que eu particularmente gosto - bem presente, e os museus são ótimos e quase todos gratuitos (para turistas, claro, porque quem mora aqui está pagando no imposto). Superficialmente pensando, alguns destaques dos museus são: o módulo lunar do primeiro americano porra-loca que orbitou a terra (a cápsula não é maior do que um banheiro de trailer, o que sempre me faz pensar que esses e outros desbravadores espaciais e terrestres - Colombo se mandando numa esquadra de navios com um bando de marginais? Fala sério, é muita coragem... - sempre tem uma dívida muuuito grande com alguém para se mandarem nessas aventuras), uma rocha lunar para tocar, os sapatinhos originais da Dorothy do Mágico de Oz, o avião dos irmãos Wright (que são creditados por eles como os primeiros aviadores, antes do Santos Dummond), um Ford-T sobrevivente e esqueletos de dinossauros. Durante as férias, teve também estréia da Sibele no esqui em uma estação próxima de Asheville, outro encanto de cidade onde passamos a virada de ano (presente de casamento dos anfitrões). É um pedacinho de Europa dentro da Carolina do Norte, com ruas pequenas, comércio local, culinária destacada e gente elegante (o que, quem já esteve aqui sabe, é coisa meio rara nos EUA). Fotos aqui (copiar e colar link no navegador): http://www.facebook.com/album.php?aid=271729&id=514369506&l=c896c06487

E o que mais? Bom, aí temos as novidades administrativo-burocráticas. Uma delas é que compramos um carro. É um Ford Focus, 2002, com alguma rodagem, mas com todos opcionais, inclusive piloto automático. Agora, compradores de carro, matem-se: custou U$3.500. Claro que o carro tem algumas coisa pra fazer, como trocar os pneus dianteiros, mas o preço é ridículo. Falando em preço ridículo, agora vem outra: fizemos a carteira de motorista do Arizona. Quanto? U$10, com direito a fazer a prova 3 vezes em caso de falha. E se você passar em tudo no mesmo dia – prova teórica e prática - já sai de lá com a carteira na mão.

Mas, claro que nem tudo são flores, como o tiroteiro de Tucson inequivocadamente ilustra. E, além do imperfeito, tem ainda o estranho, o curioso, o detalhe cultural que, independente de julgamentos sobre benefícios e malefícios, surge no dia a dia. Nesta linha, dois fatos valem a pena ser comentados.

Um são as quinquilharias que esses americanos criam (e que alguém deve comprar). Tem escada para cachorro subir na cama ou no sofá do dono; tem cobertor com buraco dos braços para a pessoa ficar assistindo TV e comendo com todo conforto; descascador de banana; e óculos com luz de leitura embutida. Ler os catálogos ou visitar as lojas que vendem esses “gadgets” é praticamente uma sessão de comédia.

Outro fato cultural é a impressionante ligação que eles têm com as universidades. Elas funcionam não somente como centro intelectual, mas como centro tecnológico, social, e econômico das cidades – pelo menos das cidades médias e pequenas. Boa parte dessa ligação é mediada pelos times esportivos dessas instituições. Em nossa volta da Carolina do Norte, pegamos um vôo cuja metade dos passageiros estavam indo assistir a final da liga de futebol americano universitário entre Auburn e Oregon (a final este ano foi em Phoenix, capital do Arizona). Parecia excursão pra Porto Seguro. Gritaria, piada e até gente bêbada. Nem preciso dizer que o estádio estava lotado. Ah, e para dar uma noção da importância da relação esporte-universidade, sabem quem é o salário mais alto da Universidade do Arizona??? O técnico de futebol americano.

Além dessa ligação mediada pelo esporte, os americanos mantém laços afetivos com outros aspectos das instituições onde eles se formaram. No evento de celebração dos 125 anos da Universidade do Arizona, tinha turma da década de 60 se reencontrando (vindo de outras partes do país para o reencontro). A Universidade, que já é bonita, teve seu jardim retocado à perfeição. Teve desfile de carros antigos, cheer leaders coerografando, reitor abanando pro público, distribuição de brindes e comida assim como comoção da platéia que acompanhava as músicas e os gritos comandados pela banda marcial da universidade. Tinha até as cheer leaders antigas reaparecendo triunfalmente (com um pouco mais de pele e rugas, claro), todas orgulhosas de seus uniformes vintage. Um dos resultados dessa contínua ligação entre universidade e aluno é que uma quantidade substancial dos graduados segue usando adesivos, moletons, bonés, torcendo pelos times, e fazendo doações (ou vocês acharam que tinha ponto sem nó nessa história?) para a universidade vida a fora. Tem também aqueles anéis “maravilhosos” que muitos graduandos recebem ou compram para estampar diariamente parte de seus feitos acadêmicos. Fotos do desfile mais americano que já presenciei aqui (copiar e colar link no navegador): http://www.facebook.com/album.php?aid=271735&id=514369506&l=7c2b8d87f6

E, falando em universidade e estudos, esta semana recomeçam nossas aulas. A Sibele segue nos 3 cursos de inglês. Eu farei cursos de modelagem estatística, aspectos sociais e culturais do consumidor e técnicas avançadas de pesquisa social. Agora, é “sem tirar” até meados de maio. No verão, eu já ensinarei um curso intensivo, provalmente Introdução a Marketing. Só espero que até lá meu grau do óculos permaneça o mesmo...