segunda-feira, julho 19, 2010

IGE: intercâmbio no Canadá e nos EUA


Comecemos sendo didáticos, afinal nem todos sabem o que fui fazer no Canadá e nos EUA. Bom, é possível que nem todos saibam que estive nos EUA e no Canadá :-). Então, este é o primeiro passo: aceite que, de 09/05 a 15/06, estive no EUA (estado do Maine) e no Canadá (estado de New Brunswick e em Toronto) e não considere uma traição o fato de estar sabendo apenas agora sobre isso.
Perdões concedidos, vamos ao que me levou a esses países. O Rotary International, uma das mais respeitadas ONGs do mundo, com direito à representação na ONU, coordena um intercâmbio de jovens profissionais entitulado IGE (Intercâmbio de Grupos de Estudo). Através deste programa, de 4 a 5 jovens profissionais - não rotarianos, mas escolhidos por clubes de Rotary de um mesmo distrito - são enviados a outro país para expandir suas fronteiras profissionais e culturais. Uma vez em outro país, estes jovens participam de visitas, passeios e reuniões culturais e profissionais. O melhor de tudo? É praticamente de graça (afinal, vocês não esperavam que o homem-bolsa tivesse pago por tudo isso rsrs). Mais informações em: http://www.rotary.org/pt/serviceandfellowship/fellowship/groupstudyexchange/
pages/ridefault.aspx


Feito o protocolo, posso dizer, sem exageros, que esta foi mais uma daquelas viagens que não cabem em um post, em um álbum ou em uma conversa. De toda forma, dei-me novamente a árdua missão de escolher alguns fatos para compartilhar com vocês de forma resumida, todos ilustrados por fotos em http://www.facebook.com/album.php?aid=182969&l=33fd549412&id=514369506

Quando alguém me conta sobre uma viagem, eu sempre pergunto: o que vc comeu e bebeu de diferente e o que fez de diferente. Provarei da mesma fórmula para responder.

COISAS DIFERENTES QUE COMI E BEBI
- Lagosta: carne suculenta, boa, mas “eita” trabalheira. Tivemos que assistir a uma palestra antes de comer e, mesmo assim, deram-nos aventais para evitar um estrago maior. O interessante é que, por ser bem mais acessível do que no Brasil, a lagosta está para os canadenses daquela regiáo como o churrasco está para nós, gaúchos. Algumas familias têm exatamente a mesma tradição do churrasco: comer todos os domingos. Detalhe que alguns comem a cascuda fria.
- Escargot: melhor do que eu pensava, mas, em resumo, o primeiro cara que comeu aquilo era definitivamente um sujeito de coragem (ou devia estar com muita fome em uma região sem boi, vaca, frango, peixe e porco).
- Vinho canadense: não é uma França ou Itália, mas, fruta que partiu, além de ter a segunda melhor qualidade de vida do mundo, os caras deram um jeito de produzir vinho! Bem que isso eles podiam não ter para juntarem defeitos que se somassem à neve, que normalmente cobre a janela das casas no inverno durantes vários meses.

COISAS INUSITADAS QUE FIZ
- pescar lagosta (ao que parece, fizemos um intensivo no assunto :-)): subimos no barco, fomos ao mar, recolhemos as armadilhas de lagosta, medimos as lagostas e devolvemos as armadilhas para o mar. Descobrimos que um bom pescador de lagosta não apenas fala fluentemente sobre sustentabilidade, mas também ganha uns U$100.000 por 2 meses de trabalho, que correspondem à temporada de pesca do dito crustáceo. Disso, podemos começar a entender uma das principais diferenças entre Canadá e Brasil: o nível cultural e financeiro da classe média. Enquanto a média da classe média no Brasil ganha U$12.000 no ano (R$25.000), no Canadá o salário minimo é U$24.000. Não é uma forturna, de certo, mas lembrem que os amigos do norte não gastam com escola, saúde e segurança. Isso explica eles poderem, mesmo sendo da classe média, seguir vida afora trabalhando e se dedicando a hobbies mais inusitados para nós, como tocar piano, produzir vídeos caseiros, fabricar cerveja em casa e velejar. Mas, voltando ao pescado, é claro que o tio da vara também tinha seu lado pescador tradicional e contava umas histórias e lendas. Uma delas diz que, antigamente, as únicas casas coloridas eram as que beiravam o mar e os rios. Isso acontecia para que elas servissem de referência aos pescadores, que precisavam delimitar civilizadamente suas áreas de pesca: a minha vai da casa amarela até a azul, a sua vai da azul até a vermelha, etc., etc., etc., até o arco-íris acabar.
- atirar com arma de verdade (com festim, mas já conta :-)): participamos do simulador de tiros da maior base de treinamento militar no Canadá. Em outras palavras, jogamos um video-game de gente grande (e bem forte, diga-se de passagem). Em suma, senti-me uma mulherzinha. Em situação de confronto, os militares carregam cerca de 15 quilos de arma e munição. Em situação de deslocamento, os caras chegam a carregar 50 quilos adicionais, compostos de arma, munição, roupa, mapa, instrumentos de navegação e primeiros-socorros e alimento. Quanto à base de treinamento, era sacanagem. Além do que já se esperava em termos de tecnologia e organização, havia um centro de condicionamento físico de nível olimpico (não raro, alguns militares seguem a carreira esportiva) e o acesso à base militar era simplesmente liberado. Não, eu não me enganei nem estou afirmando isso com base na minha entrada na base enquanto membro de um intercâmbio do rotary. A base simplesmente é aberta ao público que, em certos horários, pode fazer uso da academia dos milicos. Aliás, tal despreocupação é uma das principais diferenças entre canadenses e americanos. Ambos assistem aos mesmos seriados, noticiários, jogos, novelas e comem comidas muito parecidas, mas os últimos são os fanáticos por segurança que todos conhecemos, enquanto os primeiros vivem em outro planeta, junto com a Suiça e os países nórdicos.
- visitar uma mina subterrânea: fomos a um depósito de sal e potássio a 700 m de profundidade. Não imaginava que existia um mundo tão vasto – e inóspito – abaixo dos nossos pés. Senti-me em Zion, no Matrix. Gente indo e vindo. Cabos de telefone, banheiros químicos, máquinas, esteiras. Só para dar uma idéia, do início da mina até o final, na largura, andamos aproximadamente 5 km em um jipe. Aliás, a estrada por onde andamos tinha 2 mãos em vários pontos. Claro que o trânsito não era intenso, mas as duas mãos eram necessárias para um dos jipes não ter que voltar 5 km de ré caso encontrasse um concorrente. Ficamos 4 horas na mina. Tempo suficiente para ter saudade até da chuva.

PARA ALMEJARMOS
- burocracia: adivinha quanto tempo um empreendedor leva para obter o CNPJ canadense? Resposta (de chorar): online. O amigo coloca os dados da empresa, o capital de cada sócio, o endereço da empresa e “click”. As obrigações mais pesadas só virão no momento da declaração do IR. Além disso, o governo te garante 1 ano de salário para que você possa tocar o negócio com mais tranquilidade. Pega um lenço vai. Estou vendo suas lágrimas daqui.
- salário dos políticos: prefeitos e membros do parlamento estadual (equivalente ao nosso deputado estadual) ganham em torno de U$11.000 por ano. Vou deixar você fazer a conta de quanto um dos nossos ganha por ano e fazer um minuto de silêncio – não de respeito, mas de praga - aos políticos no Brasil.
- educação: o atual dilema educacional do Canadá é o bilinguismo (problemão, hein??!!). Diferentes provincias têm testado diferentes métodos de ensino da segunda língua. Em New Brunswick, no entanto, os testes assumiram alta prioridade por se tratar da única província oficialmente bilíngue do Canadá (o Québec é francês e todas as outras são inglesas). Até pouco tempo, as duas línguas eram ensinadas simultaneamente. No entanto, notou-se que os estudantes submetidos a tal método tendiam a não conseguir distinguir quando estavam usando uma língua ou outra. Eles simplesmente misturavam as 2 línguas indiscriminadamente nas mesmas frases, tanto na língua falada quanto na escrita. Em resumo, estava-se formando um terceiro idioma a partir da mistura do francês com o inglês. Isso não é mto diferente do que ocorreu com inúmeros outros idiomas (o galego é uma mistura do português com o espanhol, o catalão é uma mescla do espanhol com francês, etc.), mas os canadenses não curtiram a idéia de gerenciar um 3º idioma no país. Então, depois de muita discussão e testes, o método atualmente em vigor é alfabetizar em uma língua e depois em outra. Assim, as famílias que querem alfabetizar suas crianças primeiramente em francês as colocam nas escolas francesas. As que priorizam o inglês colocam suas crianças nas escolas inglesas. Somente a partir do 3º ano – com margem de erro de 1 ano, já que não tenho certeza e não quero passar por mentiroso – as crianças passam a aprender a segunda língua. Como parte desse modelo, as famílias são recomendadas também a falar apenas uma língua dentro de casa com as crianças. Pragmatismo à parte, isso gera situações inusitadas, como duas crianças de 4, 5 ,6 anos não conseguindo se comunicar por falarem línguas distintas.

PARA NOS SENTIRMOS NORMAIS
- eles também conhecem a crise do 7º ano de casamento. Erhhhh, ahmmm, a propósito... assunto nada apropriado para o momento :-).
- eles também compartilham o estereótipo da loura burra. Parece que tal imagem está espalhada, no mínimo, pelo ocidente inteiro. Culpa da Sra Monroe??? Alguém moreno arrisca uma explicação :-)???

E vamos ficando por aqui! Abraços e Beijos a loiros e morenos!

Obs: aguardem notícias do Arizona! (ah tá, vai dizer que também não sabe que estou me casando com a Sibele e indo fazer doutorado nos EUA em agosto? Bom, então essa fica para o próximo post, desde que voce me perdõe por não ter contado essa novidade também).