quarta-feira, janeiro 12, 2011

Aquele do pós-semestre e pós-atentado - Relato 2


Depois de 6 meses, uma meia biblioteca lida, 0.5 a mais de miopia e um tiroteio, seguimos fortes e avantes.

Começando pelo tópico mais quente – o débio mental que saiu atirando – nós não estávamos na cidade. Estávamos voltando da Carolina do Norte e chegamos em Tucson à noite. Soubemos da notícia pelo motorista da Van do aeroporto, que, na esperança de ganhar uma gorjeta, puxou assunto conosco. Esperança infundada a dele, mas sempre admiro os otimistas. A TV por aqui não fala em outra coisa. Até o Obama está vindo para Tucson a fim de participar de um serviço memorial fúnebre. A proporção de espaço na mídia é a mesma do Caso Isabele, com um pouco menos de especulação e mais de comoção.

O segundo tópico quente – quente = recente, importante; não referente à temperatura – foram as férias com uma parte da família que também está por aqui nos EUA, mais precisamente na Carolina do Norte. Como a primeira frase do parágrafo deixa escapar, estava o frio do cão. Agora que moramos no “Nordeste” dos EUA – que fica no sul :-) - não estamos mais acostumados com isso e foi sofrido. Durham estava frio, mas tínhamos a casa dos anfitriões (meu irmão e cunhada) pra nos esquentar e não ficávamos o tempo todo na rua. Já em Washington DC, a terra do Obama, achava que tinha perdido meu nariz e minha orelha todos os dias. Eles chegavam a ficar sem circulação. Sei que o primeiro membro do meu corpo supramencionado não é coisa pequena, mas acreditem que estava frio mesmo. Mas, turista bom não se rende a intempéries climáticas – principalmente os que nasceram com o Minuano soprando lá de Uruguaiana – e fomos à luta, desbravando a belíssima capital americana. Com encantos diferentes, acho que Washington não fica nada longe de Nova York em termos de atrativos culturais e beleza. É limpa, tem uma arquitetura neo-clássica - que eu particularmente gosto - bem presente, e os museus são ótimos e quase todos gratuitos (para turistas, claro, porque quem mora aqui está pagando no imposto). Superficialmente pensando, alguns destaques dos museus são: o módulo lunar do primeiro americano porra-loca que orbitou a terra (a cápsula não é maior do que um banheiro de trailer, o que sempre me faz pensar que esses e outros desbravadores espaciais e terrestres - Colombo se mandando numa esquadra de navios com um bando de marginais? Fala sério, é muita coragem... - sempre tem uma dívida muuuito grande com alguém para se mandarem nessas aventuras), uma rocha lunar para tocar, os sapatinhos originais da Dorothy do Mágico de Oz, o avião dos irmãos Wright (que são creditados por eles como os primeiros aviadores, antes do Santos Dummond), um Ford-T sobrevivente e esqueletos de dinossauros. Durante as férias, teve também estréia da Sibele no esqui em uma estação próxima de Asheville, outro encanto de cidade onde passamos a virada de ano (presente de casamento dos anfitrões). É um pedacinho de Europa dentro da Carolina do Norte, com ruas pequenas, comércio local, culinária destacada e gente elegante (o que, quem já esteve aqui sabe, é coisa meio rara nos EUA). Fotos aqui (copiar e colar link no navegador): http://www.facebook.com/album.php?aid=271729&id=514369506&l=c896c06487

E o que mais? Bom, aí temos as novidades administrativo-burocráticas. Uma delas é que compramos um carro. É um Ford Focus, 2002, com alguma rodagem, mas com todos opcionais, inclusive piloto automático. Agora, compradores de carro, matem-se: custou U$3.500. Claro que o carro tem algumas coisa pra fazer, como trocar os pneus dianteiros, mas o preço é ridículo. Falando em preço ridículo, agora vem outra: fizemos a carteira de motorista do Arizona. Quanto? U$10, com direito a fazer a prova 3 vezes em caso de falha. E se você passar em tudo no mesmo dia – prova teórica e prática - já sai de lá com a carteira na mão.

Mas, claro que nem tudo são flores, como o tiroteiro de Tucson inequivocadamente ilustra. E, além do imperfeito, tem ainda o estranho, o curioso, o detalhe cultural que, independente de julgamentos sobre benefícios e malefícios, surge no dia a dia. Nesta linha, dois fatos valem a pena ser comentados.

Um são as quinquilharias que esses americanos criam (e que alguém deve comprar). Tem escada para cachorro subir na cama ou no sofá do dono; tem cobertor com buraco dos braços para a pessoa ficar assistindo TV e comendo com todo conforto; descascador de banana; e óculos com luz de leitura embutida. Ler os catálogos ou visitar as lojas que vendem esses “gadgets” é praticamente uma sessão de comédia.

Outro fato cultural é a impressionante ligação que eles têm com as universidades. Elas funcionam não somente como centro intelectual, mas como centro tecnológico, social, e econômico das cidades – pelo menos das cidades médias e pequenas. Boa parte dessa ligação é mediada pelos times esportivos dessas instituições. Em nossa volta da Carolina do Norte, pegamos um vôo cuja metade dos passageiros estavam indo assistir a final da liga de futebol americano universitário entre Auburn e Oregon (a final este ano foi em Phoenix, capital do Arizona). Parecia excursão pra Porto Seguro. Gritaria, piada e até gente bêbada. Nem preciso dizer que o estádio estava lotado. Ah, e para dar uma noção da importância da relação esporte-universidade, sabem quem é o salário mais alto da Universidade do Arizona??? O técnico de futebol americano.

Além dessa ligação mediada pelo esporte, os americanos mantém laços afetivos com outros aspectos das instituições onde eles se formaram. No evento de celebração dos 125 anos da Universidade do Arizona, tinha turma da década de 60 se reencontrando (vindo de outras partes do país para o reencontro). A Universidade, que já é bonita, teve seu jardim retocado à perfeição. Teve desfile de carros antigos, cheer leaders coerografando, reitor abanando pro público, distribuição de brindes e comida assim como comoção da platéia que acompanhava as músicas e os gritos comandados pela banda marcial da universidade. Tinha até as cheer leaders antigas reaparecendo triunfalmente (com um pouco mais de pele e rugas, claro), todas orgulhosas de seus uniformes vintage. Um dos resultados dessa contínua ligação entre universidade e aluno é que uma quantidade substancial dos graduados segue usando adesivos, moletons, bonés, torcendo pelos times, e fazendo doações (ou vocês acharam que tinha ponto sem nó nessa história?) para a universidade vida a fora. Tem também aqueles anéis “maravilhosos” que muitos graduandos recebem ou compram para estampar diariamente parte de seus feitos acadêmicos. Fotos do desfile mais americano que já presenciei aqui (copiar e colar link no navegador): http://www.facebook.com/album.php?aid=271735&id=514369506&l=7c2b8d87f6

E, falando em universidade e estudos, esta semana recomeçam nossas aulas. A Sibele segue nos 3 cursos de inglês. Eu farei cursos de modelagem estatística, aspectos sociais e culturais do consumidor e técnicas avançadas de pesquisa social. Agora, é “sem tirar” até meados de maio. No verão, eu já ensinarei um curso intensivo, provalmente Introdução a Marketing. Só espero que até lá meu grau do óculos permaneça o mesmo...