A Finlândia e a Sauna Finlandesa
Se você é
limitado como eu, você sabe que a Finlândia é fria e escura uma boa parte do
ano e tem Helsinki como capital. Mais do que isso é bônus. O texto abaixo
apresenta alguns outros fatos que aprendi durante 5 dias que passei nesse país.
É sempre um grande risco falar de uma cultura inteira baseado em apenas alguns
dias envolvido com ela. Assim, considere o texto que segue realmente um
conjunto aleatório de observações, com uma atenção especial à relação
(fascinação?) dos finlandeses com a sauna.
Dependendo
dos seus traumas de infância, você talvez lembre que a Lapônia fica na
Finlândia, e que a Lapônia é onde Papai Noel supostamente mora e trabalha
(Gramado é só onde ele passa as férias). A Lapônia fica bem ao norte do país e
tem uma quantidade enorme de (surpresa, surpresa) renas. A rena funciona tanto
como força de trabalho quanto como fonte de alimento. No último caso, ela pode
vir em forma de bife, linguiça e almôndega. Pelo menos a linguiça e a almôndega
de rena tem gosto de (surpresa, surpresa) alce, que tem gosto de (surpresa,
surpresa) cavalo, que tem gosto de rena. Carne de rena é um dos pratos mais vendidos no mercado público de Helsinki.
Além do
orgulho de serem amigos íntimos do Papai Noel e do Rudolf, os Finlandeses
celebram seu design e principalmente seu estilo de decoração. Esse estilo é
funcional e explicitamente colorido. Por exemplo, uma simples cadeira colonial
será pintada com um “laranja Holanda”. Num país que passa boa parte do ano no
escuro, esse colorido cria um certo balanço. Se eles preferissem preto e cinza,
acho que a "tristeza não teria fim".
Assim como o Uruguai por séculos separou argentinos e brasileiros, a Finlândia isolava os impérios sueco e russo. Muito em função das invasões, a Finlândia permaneceu um país
rural e pobre até meados do século XX. Hoje, estão entre os países com melhor
qualidade de vida do mundo. Sempre acho fascinantes essas histórias, ainda mais
quando se trata de um lugar tão inóspito. Se bem que eles devem ter uma ajuda especial do Papai Noel.
A Sauna
A Finlândia
é o país com mais sauna per capita do mundo. Pausa pra reler. Continuo: para os
5 milhões de finlandeses existem 2 milhões de saunas. Outra pausa pra reler. Mas o que soa
estranho é na verdade um tanto lógico – pelo menos mais lógico que tomar
chimarrão no verão. Num país onde o verão (entre 15 e 20 graus Celsius) não
dura mais do que algumas semanas, a sauna ajuda os finlandeses a lidar com o
constante frio. A sauna “solta” os músculos por aumentar a circulação do sangue e te deixa com uma vontade louca de tomar banho, mesmo frio.
A questão é tão intrincada à cultural deles que o governo finlandês administra saunas
públicas. Uma das mais antigas foi criada em 1927. É nessa aí que fui. Não me
pergunte o nome, que tem mais vogais e consoantes que meu nome inteiro.
Numa tarde
de terça-feira, numa sauna com capacidade pra umas 15 pessoas sentadas, 15
pessoas estavam lá. Treze finlandeses, um asiático e eu (até parece início de
piada). Quanto ao procedimento, aquela coisa de sempre. Tira a roupa
no vestiário, finge que está tudo bem e entra na sala do calor sem olhar pro
lado. Do minuto 0
ao 2 eu mal respirava de tão quente que era o ar da sauna. Do minuto 2 ao 5,
minha orelha começou a queimar “a fu” e eu jurei que meu olho ia cair
derretido. Poff. Do minuto 5 em diante eu, tomado de desespero mas guiado pelo
orgulho, comecei a olhar ao redor (com olho que me restava, aquele que estava
do lado contrário à fornalha) pra ver como os outros estavam sobrevivendo ao
cozimento. Nesse momento, um dos meus novos amigos íntimos (afinal, ele estava
pelado há menos de 1 metro de mim) levanta, vai até a fornalha e bombeia mais
ar quente pra dar “uma esquentadinha”. Então, já pensando em desistir daquela
experiência toda, noto uma porta escura ao lado da fornalha e lembro que toda
sauna tem... ducha, seu animal. Já semi-desidratado, com o equilíbrio e o olho
que me restavam, levantei, passei pela porta, abri a ducha e tomei o frio mais
desejado da vida.
Enquanto o
nome da sauna é impronunciável, o cheiro não era. Ela cheirava à madeira, ervas
e suor, pelo menos na ala masculina da sauna. Madeira porque o calor vem duma
fornalha; ervas porque os frequentadores da sauna se espancam com uns ramos de
bétula pra aumentar ainda mais a circulação do sangue; e suor porque, bem, a
“homarada” sua aos baldes enquanto está sentada em bancos de madeira, que
duvido que sejam lavados. E o suor de alguém sentado, o leitor mais atento já
imaginou, não vem dos lugares mais perfumados do corpo humano. Fica impregnado.
Nem creolina. Só botando fogo.
Depois de
25 minutos de fogo baixo e algumas duchas, já estava satisfeito com meu ponto
de cozimento e resolvi sair. Indo pra sala de vestiário, noto barulho de copos
e gente batendo na mesa. Tinha um bar aqui e eu não vi? Abro a porta e vejo, no
canto do vestiário, uma mesa rodeada por clientes, ainda pelados, jogando
carta. Ao lado deles outros dois jogando xadrez, na mesma situação. Fingindo
total normalidade, ponho minha roupa e saio da sauna pra encontrar outras pessoas
enroladas nas suas toalhas com uma cerveja na mão (aqui uma foto do grupo
retornando pra sauna)
Suuuuuuper
normal. Alguns gostam de bater papo em bares, outros em cafés, outros em
country clubs e outros na... sauna, que pelo menos é quentinho. Na saída, indo
pra estação de metrô, passo por um bar vazio. Depois, passo por outro também
vazio. A concorrência deles não é outros bares, mas a sauna.