sábado, julho 05, 2014

A Finlândia e a Sauna Finlandesa

Se você é limitado como eu, você sabe que a Finlândia é fria e escura uma boa parte do ano e tem Helsinki como capital. Mais do que isso é bônus. O texto abaixo apresenta alguns outros fatos que aprendi durante 5 dias que passei nesse país. É sempre um grande risco falar de uma cultura inteira baseado em apenas alguns dias envolvido com ela. Assim, considere o texto que segue realmente um conjunto aleatório de observações, com uma atenção especial à relação (fascinação?) dos finlandeses com a sauna.

Dependendo dos seus traumas de infância, você talvez lembre que a Lapônia fica na Finlândia, e que a Lapônia é onde Papai Noel supostamente mora e trabalha (Gramado é só onde ele passa as férias). A Lapônia fica bem ao norte do país e tem uma quantidade enorme de (surpresa, surpresa) renas. A rena funciona tanto como força de trabalho quanto como fonte de alimento. No último caso, ela pode vir em forma de bife, linguiça e almôndega. Pelo menos a linguiça e a almôndega de rena tem gosto de (surpresa, surpresa) alce, que tem gosto de (surpresa, surpresa) cavalo, que tem gosto de rena. Carne de rena é um dos pratos mais vendidos no mercado público de Helsinki.

Além do orgulho de serem amigos íntimos do Papai Noel e do Rudolf, os Finlandeses celebram seu design e principalmente seu estilo de decoração. Esse estilo é funcional e explicitamente colorido. Por exemplo, uma simples cadeira colonial será pintada com um “laranja Holanda”. Num país que passa boa parte do ano no escuro, esse colorido cria um certo balanço. Se eles preferissem preto e cinza, acho que a "tristeza não teria fim".

Assim como o Uruguai por séculos separou argentinos e brasileiros, a Finlândia isolava os impérios sueco e russo. Muito em função das invasões, a Finlândia permaneceu um país rural e pobre até meados do século XX. Hoje, estão entre os países com melhor qualidade de vida do mundo. Sempre acho fascinantes essas histórias, ainda mais quando se trata de um lugar tão inóspito. Se bem que eles devem ter uma ajuda especial do Papai Noel.

A Sauna

A Finlândia é o país com mais sauna per capita do mundo. Pausa pra reler. Continuo: para os 5 milhões de finlandeses existem 2 milhões de saunas. Outra pausa pra reler. Mas o que soa estranho é na verdade um tanto lógico – pelo menos mais lógico que tomar chimarrão no verão. Num país onde o verão (entre 15 e 20 graus Celsius) não dura mais do que algumas semanas, a sauna ajuda os finlandeses a lidar com o constante frio. A sauna “solta” os músculos por aumentar a circulação do sangue e te deixa com uma vontade louca de tomar banho, mesmo frio. A questão é tão intrincada à cultural deles que o governo finlandês administra saunas públicas. Uma das mais antigas foi criada em 1927. É nessa aí que fui. Não me pergunte o nome, que tem mais vogais e consoantes que meu nome inteiro.

Numa tarde de terça-feira, numa sauna com capacidade pra umas 15 pessoas sentadas, 15 pessoas estavam lá. Treze finlandeses, um asiático e eu (até parece início de piada). Quanto ao procedimento, aquela coisa de sempre. Tira a roupa no vestiário, finge que está tudo bem e entra na sala do calor sem olhar pro lado. Do minuto 0 ao 2 eu mal respirava de tão quente que era o ar da sauna. Do minuto 2 ao 5, minha orelha começou a queimar “a fu” e eu jurei que meu olho ia cair derretido. Poff. Do minuto 5 em diante eu, tomado de desespero mas guiado pelo orgulho, comecei a olhar ao redor (com olho que me restava, aquele que estava do lado contrário à fornalha) pra ver como os outros estavam sobrevivendo ao cozimento. Nesse momento, um dos meus novos amigos íntimos (afinal, ele estava pelado há menos de 1 metro de mim) levanta, vai até a fornalha e bombeia mais ar quente pra dar “uma esquentadinha”. Então, já pensando em desistir daquela experiência toda, noto uma porta escura ao lado da fornalha e lembro que toda sauna tem... ducha, seu animal. Já semi-desidratado, com o equilíbrio e o olho que me restavam, levantei, passei pela porta, abri a ducha e tomei o frio mais desejado da vida.

Enquanto o nome da sauna é impronunciável, o cheiro não era. Ela cheirava à madeira, ervas e suor, pelo menos na ala masculina da sauna. Madeira porque o calor vem duma fornalha; ervas porque os frequentadores da sauna se espancam com uns ramos de bétula pra aumentar ainda mais a circulação do sangue; e suor porque, bem, a “homarada” sua aos baldes enquanto está sentada em bancos de madeira, que duvido que sejam lavados. E o suor de alguém sentado, o leitor mais atento já imaginou, não vem dos lugares mais perfumados do corpo humano. Fica impregnado. Nem creolina. Só botando fogo.

Depois de 25 minutos de fogo baixo e algumas duchas, já estava satisfeito com meu ponto de cozimento e resolvi sair. Indo pra sala de vestiário, noto barulho de copos e gente batendo na mesa. Tinha um bar aqui e eu não vi? Abro a porta e vejo, no canto do vestiário, uma mesa rodeada por clientes, ainda pelados, jogando carta. Ao lado deles outros dois jogando xadrez, na mesma situação. Fingindo total normalidade, ponho minha roupa e saio da sauna pra encontrar outras pessoas enroladas nas suas toalhas com uma cerveja na mão (aqui uma foto do grupo retornando pra sauna)


Suuuuuuper normal. Alguns gostam de bater papo em bares, outros em cafés, outros em country clubs e outros na... sauna, que pelo menos é quentinho. Na saída, indo pra estação de metrô, passo por um bar vazio. Depois, passo por outro também vazio. A concorrência deles não é outros bares, mas a sauna.








quarta-feira, junho 20, 2012

Férias no Brasil


Manhã de 11 de maio de 2012. Sentado - enquanto espero Sibele lavar o rosto no banheiro e calculo o melhor momento de passar pela segurança do aeroporto e restringir pelas próximas horas minha existência a uma cafeteria, uma livraria e um banheiro - observo um homem negro, com 1,80 m de altura e uns 15 quilos acima do peso. Ele tem aquela pele lustrosa que denuncia uma relação distante com a acne e uma relação íntima com o sol tropical. Trajando aquele uniforme da polícia carioca que não é nem cinza nem azul com a respetiva boina, ele se aproxima da área de acesso restrito do embarque com a ginga preguiçosa e ritmada do Trapalhão Muçum. Se trocasse a farda por uma sunga, o caminhar seria o mesmo. Desengata a faixa elástica daqueles bastões de alumínio que orientam as filas de banco e de aeroporto, passa para a tal área restrita e recoloca a faixa. Ele puxa uma banqueta para sua frente e a coloca naquela posição “sexy-agressiva”, com o encosto voltado pra frente, como só strippers, cowboys e interrogadores do FBI fazem. Depois de sacudir levemente a cadeira para testar sua estabilidade, ele inclina seu tronco para frente e se debruça sobre o encosto, cruzando os antebraços em direção ao chão, soltos no ar. Então ele, que talvez por um acaso da vida tenha virado policial, pega um walk-talk do cinto com aquela confiança de quem tem a vida ganha, ajeita sua calça (que mais parece uma roupa de cantor sertanejo ignorante - aquele que não é universitário) para acomodar suas joias familiares e fala ao aparelhinho preto: E aí banzé, comé que tá as coisa aí embaixo?

Foi assim que percebi que, dessa vez, depois de quase dois anos fora, o destino de viagem a ser observado era a pátria amada, terra gentil. Figuraça esse lugar, onde se assume que todos estão sempre loucos pra comer carne vermelha (ai que dó dos vegetarianos) e chamam de salada um prato de batata picada com maionese. Lugar onde as pessoas raramente transgridem o padrão de roupas ditado pela moda ou pela tradição, onde menininhas pintam unhas de rosa e aquelas que já se sentem mulheres pintam de vermelho. Lugar onde novelas ocupam quase 7 horas da programação diária da Globo (sem contar o Video Show) e a TV serve como trilha sonora das noites da família brasileira.  Quando não é a novela, é um jogo de futebol ou o DVD de algum show que acompanha a multi-tarefa contínua do brasileiro de tocar a vida enquanto ouve TV. Terra onde obras privadas avançam espantosamente (o que é aquela Arena do Grêmio em Porto Alegre?!) e as públicas só ficam prontas quando não satisfazem mais às necessidades às quais se propunham. Terra onde nem sempre se tira o notebook da mala antes de passar pelo raio-x no aeroporto e onde a paranoia por segurança não é tão grande, talvez porque a violência permeie tantas áreas que controlá-la apenas no aeroporto, lugar habitualmente frequentado pela classe não violenta, seria ofensivamente irônico. Lugar onde se abraça e se beija estranhos na face, mas onde faixas de segurança são invisíveis e sinais amarelo de trânsito parecem dizer “acelera para não parar no vermelho, seu mané”. Lugar onde algumas coisas são tão caras (exceto pelo Seu João, sapateiro de Taquara que cobra R$2 para pintar meticulosamente um par de sapatos, R$10 para trocar forro de cadeira de praia, e para quem preço com centavos é coisa de fresco) que uma das principais motivações para se viajar são as compras. No aeroporto de Miami, o traje típico de viagem de um brasileiro retornando ao Brasil é um tênis Nike reluzente com algum detalhe laranja, um relógio de pulso maior que um relógio de bolso e uma camiseta pólo Tommy Hilfilger ainda com cheiro de nova.

O Brasil é também onde está aquele pedaço fronteiriço de chão chamado Rio Grande onde, como é típico de fronteiras, a permeação cultural desafia a artificial divisão geográfica entre países. Um lugar que tem uma serra verdinha, uma umidade da qual até lesma quer fugir e cujo povo tem o hábito de compartilhar um chá quente dentro de um recipiente amadeirado que é a caneca mais máscula e ao mesmo tempo fresca que um chá poderia ter.  Terra onde metade das mulheres entre 16 e 40 anos faz luzes no cabelo (números informalmente coletados por mim mesmo numa tarde no Shopping Iguatemi de Porto Alegre) e onde dois terços das mulheres acima dos 60 anos escondem os fios grisalhos com algum tom entre o cobre e o caju.  Lugar onde se almoça ao meio-dia e, sempre que possível, toma-se um delicioso café da tarde com cuca, salame, cacetinho e requeijão.  Terra onde os gordinhos se orgulham de suas panças recheada de picanha e Polar e usam camisetas bem grudadas que deixam o umbigo em alto relevo, onde o pessoal não hesita em acender um fogo e assar um bicho para ofertar ao visitante (tivemos uma incrível média de 2 churrascos por semana). Lá no Rio Grande, a pessoa que não gosta de churrasco é porque nunca provou um bom de verdade!


O Rio Grande também é a terra onde mamãe e titia prepararam uma festinha de 33 anos (!) com direito a branquinho, “negrinho”, salgadinhos e bolo. Agora sou mais velho do que maioria dos jogadores de futebol e comissários de bordo de voos domésticos. Foi lá no Rio Grande onde pela primeira vez uma criança me pediu colo (uma das sobrinhas rsrsrs) e onde o redemoinho de uma sobrinha e o olhar da outra me fizeram sentir como se estivesse brincando com uma versão animada dos meus irmãos que só havia visto nos álbuns de família.

Assim foram as férias no Brasil, período em que respondi 45 vezes as perguntas “Onde vocês estão mesmo?”, “Como é o tempo lá?”, ”E o churrasco?” e “Quanto tempo mais vocês ficam lá?” dizendo, com algumas variações em função da intimidade, nível alcoólico, e senso de humor do ouvinte, que “Estamos em Tucson, o mesmo nome da camionete”, “O verão é terrível até para os lagartos, mas as outras estações são ótimas”, “Churrasco é muuuuito bom, mas existe vida além do espeto” e “Sinceramente, não sabemos.” Lidar com ambiguidade, aliás, não é fácil, já que nunca fomos elogiados por responder “não sei”. Mas, a vida fica menos angustiante se a gente se acostuma com a ideia de que a incerteza é parte das principais escolhas que fazemos.

Forte abraço aos que encontrei, aos que não consegui encontrar, e que todos os santos ajudem o policial fã do Muçum e seus amigos a dar conta dos turistas estrangeiros que em breve nos visitarão.


quarta-feira, janeiro 04, 2012

Férias e Black Friday

Férias. O objetivo é sempre descansar, mas normalmente duas opções distintas se apresentam: (1) reduzir o ritmo de todas as atividades, incluindo as rotineiras, e descansar descansando; ou (2) aumentar o volume e intensidade daquelas atividades que você não consegue fazer em meio à rotina e descansar cansando. Desta vez, a opção escolhida foi a primeira. Menos leitura e menos escrita, mais tempo para cuidar da base que sustenta a cabeça que está cada vez mais pesada e com cabelos brancos, escolher com cuidado os filmes que se quer ver, dormir até mais tarde, dexiar os poucos pelos revoltos que tenho na face crescerem, consertar uma coisinha aqui e outra ali na casa, ver os gols do brasileirão pelo Youtube, descobrir que o time do Barcelona é realmente foda.

Passamos o Natal e o Ano Novo em Tucson. O primeiro com amigos e o segundo na santa paz do casal. Como programação das férias, também resolvemos conhecer Phoenix, a capital do Arizona e cidade da Bella antes da sua mudança para Forks (os mais atentos já descobriram pelo menos um dos filmes das férias). A exploração da capital iniciou com uma busca impulsiva por picanha, digo, pela churrascaria Fogo de Chão. Convidados por outro casal de amigos brasileiros, subimos no cavalo às 9 da manhã e chegamos em ponto para a abertura da matança, às 11:30. Depois de muito pouca salada, vários suspiros, muitos vazios, incontáveis picanhas e outras iguarias sangrentas, levantamos acampamento à 1:30. Saímos de ladinho com os braços levantados para ver se o ar entrava. Brutal. A segunda etapa, tomara mais civilizada, ainda acontecerá no próximo final de semana, quando tentaremos conhecer outros pontos turísticos de Phoenix.

No entanto, decisão totalmente arbitrária tendo em vista a serenidade das férias, o tema principal escolhido para esse post não são viagens, mas sim um fato occorido em novembro, um elemento cultural dos EUA ainda relativamente estranho à cultura brasileira: o Black Friday. Sem entrar muito em detalhes, o Black Friday é a sexta-feira após o Dia de Ação de Graças, que é o feriado americano mais “família”. Para dar graças à prosperidade, as famílias tentam passar o dia em relativa espiritualidade.  As comidas, apesar de abundantes, tendem a ser bastante simplórias, com sabores e ingredientes ordinários como batata, frutas da estação, pão, e peru. Várias famílias rezam e a troca de presentes é escassa ou inexistente, mantendo o caráter comercial comum a outros feriados (e.g., Natal) à certa distância.

Esta espiritualidade, no entanto, tem sido colocada em cheque pelo Black Friday, o dia de largada para as compras de Natal nos EUA. Em 2010, as lojas mais agressivas abriram às 4 da manhã, o que já é suficiente para fazer muita gente não dormir na noite de Ação de Graças. Neste ano, o demônio tomou conta e a grande maioria abriu à meia-noite do Dia de Ação de Graças, sendo que algumas redes, como o Wal-Mart, disponibilizaram as promoções a partir das 22 hs. Saldao de vendas às 5 da manhã nas Casas Bahia é para os fracos e amadores. Entrar e suceder no Black Friday requer estratégia e profissionalismo. Uma semana antes, as lojas iniciam as campanhas anunciando os produtos em promoção e a hora de abertura das lojas. Com base nos folhetos de ofertas, horário de abertura das lojas e interesses pesoais, os consumidores começam a montar seus complexos planos de logística: vamos para a fila do Wal-Mart às 20h para comprar o Xbox; saímos de lá às 23h e vamos para a Best Buy, que só abre meia-noite e tem a “minha” TV (note que o processo de apropriação já começa antes); feito isso, vamos a Macy’s comprar uma torradeira e casados de inverno.


Wal-Mart minutos antes do início do Black Friday


  Algumas ofertas são fortes mesmo – e.g.,  TV plasma 42” por U$200 - e instigam até mesmos os consumidores mais controlados (eu). Mas, quando estes consumidores controlados resolvem ceder as tentações e cogitar a possibilidade de ir para a fila por volta das 18h - o que significaria 6 horas de espera munido de livro, computador, chimarrão e lanche – as fontes oficiais de informação mostram que é melhor não se meter com os profissionais do consumo: os americanos. O noticiário local entrevistou gente na fila pela tal TV na terça-feira (lembre que a loja abriria apenas de quinta para sexta-feira). Este cidadão, que por uma ironia tinha poucos dentes, provavelmente está desempregado e disse ao jornalista “I came for my TV”, estava no campo de batalha 3 dias antes da abertura da loja com todo aparato de camping que um bom americano dispõe! Impossível competir...  Sibele e eu passamos na frente desta rede de lojas que oferecia a tal TV um pouco antes da abertura das portas. Além de barracas de 4-6 pessoas, vimos gente com mesa dobrável de 8 cadeiras tendo a ceia de Ação de Graças na fila do Black Friday.Toda essa logística implica necessariamente na redução do tempo de Ação de Graças de muitas famílias, cujo horário de término passa a ter um limite imposto pelo início da “procissão” pagã do Black Friday. A procissão transforma a madrugada em dia: as ruas ficam cheias, os estacionamentos sem vagas e as filas dão voltas na loja. Algumas pessoas chegam a alugar SUVs para conseguir transportar todas as compras.

No Wal-Mart, nosso ponto escolhido para experenciar o fenômeno, os produtos foram espalhadas em ilhas e os consumidores podiam esperar dentro da loja em volta dessas ilhas. Enquanto cercavam as ilhas, a ansiedade dos consumidores perante a possibilidade de outra pessoa pegar o desejado produto era perceptível. Fingindo estar relaxados e fazendo comentários humorísticos com os então inimigos, eles pré-possuiam suas câmeras Nikon ou seus aparelhos de Blue-ray enquanto “gentilmente” expandiam seus corpos para guardar seus pontos privilegiados. Alguns nem respiravam para não reduzir a caixa toráxica. A maior fila do Wal-Mart iniciava no meio da loja e ia em direção às carnes, que fica em um dos extremos do ambiente. “Que picanha deve ser esta meu Deus?” , pensei. Na verdade, era o Nintendo Blue. Ainda no Wal-Mart, presenciamos adultos com 3 carrinhos enfileirados de compras, parecendo uma locomotiva. Um adulto da família ficava no primeiro vagão dando a direção e o outro ficava atrás, colocando força no motor para levar a família de uma ilha de promoção a outra ou ao caixa, onde efeturariam o pagamento para rapidamente ir à próxima trincheira da guerra. E as crianças? Pais colocavam as crianças (outro objeto?) dentro dos carrinhos junto com TV, liquidificador e Blue-ray, tanto com o intuito de não perdê-las quanto para se locomovorem mais rapidamente no campo de batalha. Afinal, o sucesso da próxima compra depende dos segundos economizados com as anteriores.

Possuída?

O movimento vai gradualmente diminuindo ao longo do dia, com famílias voltando pra casa com o sentimento de economia (?!). Entretanto, o Black Friday segue fazendo parte das conversas pelos próximos dias. Pessoas compartilham suas aventuras de consumo enquanto fazem espaço nas suas casas a fim de acomodar suas recentes aquisições, o que pode requerer a transferência de outros objetos para garagens alugadas (ver abaixo). Em um país dito em crise, eventos como o Black Friday sugerem algumas questões. É possível que seja exatamente a crise que leve tantas pessoas a lutarem pelas “economias” do Black Friday. Por outro lado, o volume de compras dessas pessoas reforça a hipótese de que o Black Friday seja mais um sinal da força da cultura de consumo que celebra a apropriação material enquanto confronta rituais básicos da chamada família americana. Rituais servem para reviver e provar a contínua importância de valores. Quando tais rituais são importantes, é comum que eles se tornem feriados exatamente para que obstáculos do cotidiano não interfiram com a prática e lembrança destes valores. Em inglês, a palavra "holiday" (feriado) vêm de "holly day" (dia sagrado), ou seja, celebra-se o ritual de Thanksgiving para que os valores sagrados da família sejam lembrados e fortalecidos. O nítido conflito entre Thanksgiving e Black Friday coloca a questão se outra categoria especia de dia deveria ser criada para representar rituais profanos: o Sinday (dia do pecado). Ou talvez para simplificar, poderíamos apenas questionar se, quando em choque, consumo é mais central do que família. Ou vai dizer que consumimos apenas para o bem-estar da nossa família?

Arranjando espaço para acomodar as compras de Black Friday

Por fim, antes tarde do que nunca, feliz ano novo a todos!

PS: passagens compradas para o Brasil em maio. Ficaremos de metade de maio até segunda quinzena de junho. Esperamos encontrar com tantas pessoas quanto pudermos :-).

sábado, agosto 20, 2011

San Diego e os parques californianos



Algumas pessoas sugeriram que eu colocasse um resumo do destino antes do texto. Então aí vai a ficha:



Cidades principais: San Diego e Anaheim - California, EUA
Período: Julho de 2011
Viajantes: Sibele, Dona Cida (mãe), Dona Ieda (sogra)
Atrações mais populares: Sea World, Zoológico de San Diego e Disney California.
Fotos: http://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150269216819507.345687.514369506&l=65d4bc0020&type=1

Alguns de vocês podem já ter visto as fotos dessa viagem no Facebook ou Orkut (sim, ainda me dei o trabalho de postar no moribundo Orkut para mostrar que respeito às origens das redes sociais no Brasil e que não me entrego tão fácil à moda), mas ainda acho que as 1000 palavras que uma imagem vale podem não ser as mesmas 1000 que você quer dizer, certo? Assim, seguindo a tradição, vamos ao texto, ainda que após imagens. Comecemos pelos parques da Califórnia e depois passemos à cidade de San Diego.

O mundo Disney já é conhecido, pelo menos de fama, para muitos. Túneis para os funcionários e materiais indesejados circularem fora da vista dos visitantes, mudanças constantes de ambiente para reduzir a percepção do tempo de espera na fila e a não venda de chicles para evitar aquelas manchas no chão ilustram o tipo de atmosfera que se tenta criar. Tem também o desfile de personagens, o castelo da Bela Adormecida no meio do parque, o Pateta, o Mickey, a Mini e outros personagens simpáticos circulando pela multidão e posando para fotos (nota à parte: o calor que eles devem passar não é pouco. Feliz são os funcionários que se vestem de Peter Pan ou Tarzan).

O que eu nunca havia botado fé nos parques Disney é o tal show de fogos. Uns estouros aqui, umas cores no céu acolá, não tem como ser muito diferente disso, pensava eu. Além disso, o show é com o céu já escuro, o que significa permanecer no parque até as 9h da noite. Mas, como dessa vez havíamos chegado relativamente tarde na reunião com o Pluto, decidimos segurar as pontas, jantar na casa da Mini e esperar até o tal show. Arrependimento zero. O espetáculo de 30 minutos é uma mescla de luzes, som, e efeitos especiais dignos de uma empresa que vende sonhos e memórias. Fogos com formas e cores que parecem ter sido criadas por computação gráfica dançam ao redor do castelo da Bela Adormecida, que é sobrevoado de tempos em tempos pela Sininho e pelo Dumbo (não sei por que a Mary Poppins foi excluída da brincadeira). Ao fundo, toca uma música sobre acreditar nos sonhos. Arrisco dizer que até o mais macho dos machos, aquele que não come mel posto que aprecia chupar a abelha, usaria o adjetivo encantador para descrever o negócio. O show faz jus ao fato de que o castelo com os fogos ao fundo é o símbolo da Disney.

Mas saiamos do mundo onde ratos, patos e cachorros falam e dão autógrafos e vamos ao mundo dos animais reais: o zoológico de San Diego. A primeira observação a ser feita é que o nome zoológico é apenas para manter a tradição, pois se trata de um parque de diversões cujo tema é o mundo animal. Tem teleférico, ônibus turístico de dois andares, sessões especiais para quem alimentar os animais e até escada rolante para te levar da África ao Pólo Norte ou da América do Sul a Oceania. Se você cansar ou passar mal (tivemos que perguntar isso em virtude da temperatura e da idade de alguns dos viajantes), eles te buscam e te levam de carrinho elétrico pelo resto da visita (mais detalhes sobre meios alternativos de transporte dentro dos parques no PS 1, mais abaixo). O zoológico é considerado um dos maiores do mundo e têm espécies que raramente são encontradas em cativeiro, como os ursos Panda, Coala e Polar. O urso festeiro (ou vai dizer que as olheiras do Panda são de tanto estudar?) é tratado como super star. Tem hora especial de visitação, hora especial de alimentação, apenas um panda por jaula e você não pode fazer barulho na área dele. Os visitantes têm que seguir o fluxo da fila que é ditado por um dos 6 ajudantes de Panda, que além disso cuidam da sua restrita alimentação dele (apenas bambu).

Se o zoológico é impressionante e consegue passar a idéia de uma possível harmonia entre humanos e animais, esta atmosfera é elevada ao cubo no Sea World. Além de toda essa questão de organização, limpeza, animais e famílias felizes, aqui os humanos trocam carícias (quase fazem amor) com orcas, golfinhos, leões marinhos e lontras. A relação entre os treinadores e aqueles animais – teoricamente selvagens - beira a telepatia. Você jura que vê os bichos sorrindo de tão felizes que eles parecem estar em obedecer aos comandos humanos! Apesar de ser uma relação de egoísmo, visto que todos os animais do Zoo e do Sea World poderiam estar desfrutando das maravilhas da liberdade em vez de serem protagonistas de um show, é difícil para o mais cínico dos seres humanos não se sensibilizar com a harmonia transmitida pelos espetáculos. Você sai do parque achando que o mundo tem jeito (eu pelo menos pensei assim até o próximo noticiário) e torcendo que tais experiências repercutam na educação ambiental dos visitantes para além dos limites do parque.

Não sei se por ser uma extensão ou a origem de todo essa atmosfera, San Diego também possui alguns elementos harmônicos que chamam a atenção especialmente por se tratar de uma grande cidade. Em algumas das praias é possível encontrar leões marinhos descansando na areia a apenas alguns metros dos banhistas. Existe também uma harmonia entre o pequeno e o grande em San Diego. Apesar de ser repleta de autovias gigantes, americanos dirigindo pick-ups e franquias de fast-food, San Diego possui várias regiões que conservam ares de cidade pequena com lojas e restaurantes locais, microcervejarias, e, o mais impressionante, lugar para estacionar de grátis no centro (há tempo não via isso!). A Ilha de Coronado é exemplar nesse aspecto: calçadão, ruas floridas, casas novas e antigas, restaurantes à beira mar e praias para todos os gostos, sem falar no próprio Hotel Coronado, cujo vermelho do telhado provoca um efeito visual marcante ao contrastar com o branco da areia e o azul do mar (parece até um início de bossa nova isso).

Não contente em ter todas essas atrações, San Diego é conhecida como a cidade com o melhor clima dos Estados Unidos. A temperatura no verão fica em torno dos 30 e tem sempre uma brisa. No inverno, raramente baixa dos 15. E, para dar nojo, tem ainda o Parque Balboa, com um roseiral impecável - que no Brasil não duraria, muito infelizmente, nem 12 horas até que cada transeunte pegar uma muda para sua casa - e um conjunto arquitetônico impressionante.

Em resumo, se você é daquelas pessoas que, no meio das férias, sempre pensa em largar tudo e virar vendedor ambulante só para trabalhar de frente para o mar com uma brisa sem grandes responsabilidades, não vá para San Diego que é capaz de os pensamentos te escravizarem. O único senão é ter que conviver com as camisas floridas, meiões brancos, bermudas beges e tênis para trombose que esses americanos insistem em usar. Mas, acho que está valendo...

PS 1: Dica para os pão-duros e caras-de-pau de plantão: em vez de comprar aquele passe especial que te dá prioridade nas filas dos parques, é só alugar uma cadeira de rodas. É menos da metade do preço e você passa na fila até mais rápido. Juro que descobrimos isso sem querer e hesitamos (por 0.5 segundos) em usufruir dos benefícios, mas que curtimos a idéia depois do fato consumado não dá para negar. E o melhor é que um cadeirante dá direito a todos acompanhantes passarem junto.

PS 2: sim, ainda faço doutorado e a vida não é só viagens. As aulas começam dia 22/08 e as disciplinas desse semestre são etnografia, aspectos psicológicos do consumidor e sociologia da cultura. Que venha o segundo ano!


PS 3: também fomos a Los Angeles, mas o post anterior do blog já cobre essa cidade. Perguntaram-me, entretanto, sobre o Bubba Gump (aquele restaurante de camarões que o Forrest Gump abre com seu Tenente após retornar do Vietam). Esse restaurante foi fundado após o filme, ou seja, é a vida imitando a arte. No entanto, vale a diversão. Fica no pier de Santa Mônica, tem um banco com caixa de chocolates e um Nike Branco para tirar fotos e os cardápios são em formato de raquete (se não entendeu o motivo, fica o convite para assistir Forrest Gump novamente).

Saudações empoeiradas de Tucson!

sábado, junho 04, 2011

Las Vegas e Los Angeles





O primeiro ano de doutorado se foi e, para celebrar o feito, uma ida com Sibele, Zeca e Núbia a Los Angeles e Las Vegas foi feita. Maiores detalhes sobre a cidade dos anjos e a cidade do diabo está abaixo.

Las Vegas – ou Vegas para os íntimos
Se você, assim como eu, não é fã de jogos de aposta nem de lugares que descaradamente simulam realidades de outros locais - existe um famoso artigo científico sobre a “cópia de realidade” criada em Las Vegas chamado “May the farce be with you” - você vai resistir a Las Vegas... até você entrar lá.

Chegando pelo Sul você quase passa desapercebidamente pela placa “Welcome to Fabulous Las Vegas”. Logo após, dois prédios em forma de barra de ouro compõem o complexo do Casino/Hotel Mandalay Bay, cujo tema gira em torno do luxo da natureza. Dali em diante, o mundo urbano ocidental está condensado em 2 quadras de casinos que simulam algumas das principais cidades e pontos turísticos do nosso imaginário. Em Vegas, você pode ir a Veneza, Paris e Nova York em 5 minutos. Enquadrando a sua câmera fotográgica corretamente, você consegue facilmente tirar uma foto para contar aos amigos que andou por estes lugares sem ter nunca ido até lá. A foto da Torre Eiffel na verdade fica até melhor.

Nesta quadra-mundo, não é apenas o espaço que está condensado, mas também o tempo, que é constantemente distorcido. O Ceasar Palace - provavelmente o maior dos casinos pelo menos em tamanho - tem como tema Roma Antiga. Próximo a ele está o Treasure of Island, cujo tema são piratas, e o Cosmopolitan, que dá ares de um inferninho futurista com garotas dançando em nichos suspensos, iluminação fumê e uma coleção abundate de cristais ao longo da sala principal de jogos. Se é noite e você quer dia, vá ao interior do The Venetian, onde os canais de Veneza e a praça de São Marcos estão sempre entardecendo. Você também pode ir a um trecho da Freemont Street chamado Freemont Experience, onde uma gigantesca tela côncava cobre a rua projetando mensagens, publicidade e imagens em cores sempre saturadas. Se é dia e você quer noite, essa é fácil: escolha qualquer um dos casinos.

Para as pessoas perderem a noção do tempo, os casinos aplicam a eficiente fórmula: pouca iluminação - janelas - relógios nas paredes + garçonetes ativas + barulho o tempo todo = que horas são isso mesmo?. Nesta equação, o constante barulho das máquinas serve como lembrete ao jogador que mais alguém acaba de ganhar, dando a sensação de que, se ele jogar só mais um pouco, sua vez de ganhar chegará. Os casinos são 24 horas não apenas em termos de horário de trabalho, mas de horário de consumo. Minha resistência física não me permitiu dar uma idinha ao salão de um casino no meio da madrugada para ter certeza de que o negócio estaria bombando, mas a partir das 8:30 da manhã a hipótese está confirmadíssima. O movimento nestas horas teoricamente indigestas para ojogo impressiona. As garçonetes seguem trazendo bebidas alcólicas de graça (eu me pergunto o que elas diriam se alguém pedisse leite) como se fosse 10h da noite, contanto, claro, que você esteja jogando. Aliás, esta é maneira mais barata de se beber em Las Vegas. Você pode comprar 50 centavos em fichas e jogar bem devagarinho nas máquinas (1 centavo por vez) enquanto você pede bebida pras garçonetes. Você deve ter notado que eu só falei em garçonetes. Coincidência? Claro que não. O decote delas e o tamanho dos peitos também não são. Curioso deve ser observar o processo de recrutamento e seleção nos casinos. Peito P ou M? Funcão X, Y e Z. Peito G ou GG? Função A,B e C.

Toda esta condensação de espaço e distorção de tempo é acompanhada por um apelo especial a jogo, fumo, bebida e sexo. Não é a toa que a cidade tem o apelido de Sin City, a cidade do pecado. Até então, eu achava que, se o capeta tinha uma morada na Terra, ela se localizava em Amsterdam, mais precisamente no Red Light District. Neste distrito, igrejas, estalecimentos comerciais “inocentes” e famílias passeando se misturam com sex shops, museus de objetos fálicos e garotas convidativas (convidando que você conheça o escritório delas). Porém, comparado a Vegas, o tal distrito da capital holandesa parece mais um campo de batalha entre Deus e o Diabo do que a morada oficial do cramulhão. No Red Light os dois parecem ainda ironicamente conviver. Mas, se o capeta tem residências aqui na terra do meio, uma delas certamente é uma suíte presidencial em algum dos casinos da Main Strip (a rua principal de Vegas). Em Vegas, o capeta tomou conta geral ao oferecer a possibilidade de prazeres controlados por preços acessíveis. Quer apostar e ganhar dinheiro sem trabalhar? A partir de 1 centavo você pode usar as máquinas e tentar a sorte. Quer atirar? Por U$25 você pode escolher entre um rifle ou pistola semi-automática para dar 20 tiros em uma loja de armas. Quer voar de helicoptero? U$29 são suficientes para uma rápida volta em torno do Lago Mead, a parte represada do Rio Colorado que é a principal fonte de água para o Sudoeste dos Estados Unidos. Limosine? Sai um pouco mais caro do que os demais prazeres, mas por U$60 ja dá para rodar uma hora dentro daquela linguiça ambulante pelas ruas iluminadas de Las Vegas. Mas Vegas não é só sexo, drogas, bebida e jogo. Tem também o consumo mais “normalzinho”. Os mais santos podem se divertir um dia inteiro pecando em um dos Outlets que circumdam a cidade. Enfim, é difícil escapar. O capeta é perspicaz e ardiloso. Aí, se você conseguir sair de Las Vegas ileso e quiser ir embora, você novamente passará pela placa “Welcome to Fabulous Las Vegas” desta vez com mais atenção. A dúvida será se o fabuloso é de espetacular, único e estonteante ou de fábula mesmo, algo que não existe, hiperreal, onírico, com personagens fictícios que viajam no tempo e no espaço e que podem ficar ricos em um passe de mágica. Talvez os dois.

Fotos:http://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150201577264507.326744.514369506&l=0ce05612c1

Los Angeles


A primeira característica que chama atenção são os anéis viários da cidade (até porque é a primeira coisa que um visitante vê). Quatro pistas de cada lado da estrada é normal. Alguns trechos chegam a ter 9 pistas de cada lado, causando uma sensação de tontura em motoristas menos cosmopolitas, principalmente quando os nativos costuram ultrapassagens acima do limite de velocidade. Mesmo assim, o fraco transporte público da cidade não permite um trânsito fluido. Engarragamentos são comuns - apesar de não serem quilométricos - e os motoristas adoram uma buzina. Sinais típicos de uma metrópole impaciente.

Contrastando com o cinza das estradas está o verde das colinas de LA. As estradas na verdade cortam e se entrelaçam com as colinas. Então, de tempos em tempos você “desce” por uma saída e chega a uma parte da cidade, que, apesar do estresse de uma grande metrópole, tem seus atrativos. Aquela imagem de LA do Stalone Cobra, uma cidade insegura e violenta precisando de uma “cura para uma doença” (que pérola de frase do Silvester), não existe mais ou pelo menos fica bem escondida. As cidades vizinhas deLA também têm seu charme, algumas delas encarnando o estereótipo do sonho americano. Em Glendale, uma das pequenas cidades da grande LA, visitamos por acidente um shopping chamado “The Americana” que nos tirou do eixo. Chegamos lá depois de entrar por engano em um rua sem saída que, na verdade, era uma entrada para um estacionamento pago. Este estacionamento acidental tinha uns 5 andares, uma rampa de acesso com 3 pistas e um bando de motoristas “metendo por fora” para chegar mais rápido às escassas vagas. Completada a missão de estacionar, pegamos um elevador mágico que nos largou no meio da cidade perfeita: show de águas, monumento aos soldados americanos, crianças assoprando bolinhas de sabão em um gramado tão verde quanto o da casa de verão da Família Real Inglesa, postes nostálgicos de iluminação pública da década de 50, vendedores das lojas usando gravata borboleta, avental e chapéu de marinheiro, bonde elétrico e música estilo Frank Sinatra tocando em pequenas caixas de som espalhadas pelas ruas do bairro encantado. Ninguém tinha defeito em “The Americana”. A sensação que tínhamos era de que se uma criança chorasse ela seria imediatamente removida por estar atrapalhando o clima. A comparação mais próxima que conseguimos chegar foi o “Show de Truman”, aquele filme estrelado pelo Jim Carrey em que ele vive em um mundo perfeito que, na verdade, é cenário de um reality show.

Inúmeras atrações culturais mescladas com atrações naturais também compõem o cenário de Los Angeles. Bons museus e belas praias estão à disposição dos visitantes. Em particular, Santa Mônica atrai uma pequena multidão para o seu pier, que oferece um mini parque de diversões, vendedores ambulantes, artistas de rua e uma filial do Bubba Gump, que explora bem a sua relação com o filme Forrest Gump. Na frente deste restaurante de camerões que Forrest teria fundado com o Tenente Dan em homenagem ao seu melhor amigo Bubba, há um banco de madeira com um pacote de presente, uma pequena mala, e um tênis branco da Nike de concreto para você entrar no filme por alguns instantes.

Falando em filmes, não esqueçamos que Hollywood fica do ladinho de Los Angeles. A calçada da fama, os estúdios e o Kodak Theatre estão entre as principais atrações da região. Em frente ao Kodak Theatre, pessoas se apoderam da calçada para tirar fotos ao lado daquelas estrelas com os nomes dos artistas. Em paralelo, artistas de rua fantasiados de Batman, Homem-Aranha, Jack Sparrow (Piratas do Caribe) e Michael Jackson dão um toque maior de realismo (?) e deixam você tirar um foto com eles em troca de uma doação qualquer.

Por último, saindo (parcialmente) do mundo da fantasia e dobrando à esquerda você chega a Beverly Hills, seus famosos moradores e suas sumtuosas casas. Para otimizar o tempo do passeio por lá optamos por comprar uma mapa da casa dos famosos, já que não esperávamos placas apontando “aqui casa da Madonna” ou “siga reto para Jack Nicholson”. Pagamos dolorosos U$7 pelo tal mapa da mina, que ficaram mais dolorosos quando chegamos à Beverly Hills e fomos lembrados pelas paredes das casas das estrelas que a maioria dos ricos gosta mesmo é de privacidade. A parte mais visível das casas era o telhado e a caixa de correio. Disapontados com a falta de sensibilidade das estrelas que não querem expor suas vidas aos milhões de turistas e paparazzi que circulam por lá, deixamos a parte residencial de Beverly Hills para dar uma passadinha pelas grifes e vitrines da Rodeo Drive. Lá, tudo era visível, mas de vísivel para atingível o caminho é grande... Eu até quis dar um anel da Tyffany para a Sibele, mas ela não aceitou. Só nos restou ir embora e jantar uma cebola no Outback. Aposto que os ricos não sabem o prazer que aquela cebola dá.

Fotos: http://www.facebook.com/media/set/?set=a.10150201587449507.326748.514369506&l=660e688373

quarta-feira, janeiro 12, 2011

Aquele do pós-semestre e pós-atentado - Relato 2


Depois de 6 meses, uma meia biblioteca lida, 0.5 a mais de miopia e um tiroteio, seguimos fortes e avantes.

Começando pelo tópico mais quente – o débio mental que saiu atirando – nós não estávamos na cidade. Estávamos voltando da Carolina do Norte e chegamos em Tucson à noite. Soubemos da notícia pelo motorista da Van do aeroporto, que, na esperança de ganhar uma gorjeta, puxou assunto conosco. Esperança infundada a dele, mas sempre admiro os otimistas. A TV por aqui não fala em outra coisa. Até o Obama está vindo para Tucson a fim de participar de um serviço memorial fúnebre. A proporção de espaço na mídia é a mesma do Caso Isabele, com um pouco menos de especulação e mais de comoção.

O segundo tópico quente – quente = recente, importante; não referente à temperatura – foram as férias com uma parte da família que também está por aqui nos EUA, mais precisamente na Carolina do Norte. Como a primeira frase do parágrafo deixa escapar, estava o frio do cão. Agora que moramos no “Nordeste” dos EUA – que fica no sul :-) - não estamos mais acostumados com isso e foi sofrido. Durham estava frio, mas tínhamos a casa dos anfitriões (meu irmão e cunhada) pra nos esquentar e não ficávamos o tempo todo na rua. Já em Washington DC, a terra do Obama, achava que tinha perdido meu nariz e minha orelha todos os dias. Eles chegavam a ficar sem circulação. Sei que o primeiro membro do meu corpo supramencionado não é coisa pequena, mas acreditem que estava frio mesmo. Mas, turista bom não se rende a intempéries climáticas – principalmente os que nasceram com o Minuano soprando lá de Uruguaiana – e fomos à luta, desbravando a belíssima capital americana. Com encantos diferentes, acho que Washington não fica nada longe de Nova York em termos de atrativos culturais e beleza. É limpa, tem uma arquitetura neo-clássica - que eu particularmente gosto - bem presente, e os museus são ótimos e quase todos gratuitos (para turistas, claro, porque quem mora aqui está pagando no imposto). Superficialmente pensando, alguns destaques dos museus são: o módulo lunar do primeiro americano porra-loca que orbitou a terra (a cápsula não é maior do que um banheiro de trailer, o que sempre me faz pensar que esses e outros desbravadores espaciais e terrestres - Colombo se mandando numa esquadra de navios com um bando de marginais? Fala sério, é muita coragem... - sempre tem uma dívida muuuito grande com alguém para se mandarem nessas aventuras), uma rocha lunar para tocar, os sapatinhos originais da Dorothy do Mágico de Oz, o avião dos irmãos Wright (que são creditados por eles como os primeiros aviadores, antes do Santos Dummond), um Ford-T sobrevivente e esqueletos de dinossauros. Durante as férias, teve também estréia da Sibele no esqui em uma estação próxima de Asheville, outro encanto de cidade onde passamos a virada de ano (presente de casamento dos anfitrões). É um pedacinho de Europa dentro da Carolina do Norte, com ruas pequenas, comércio local, culinária destacada e gente elegante (o que, quem já esteve aqui sabe, é coisa meio rara nos EUA). Fotos aqui (copiar e colar link no navegador): http://www.facebook.com/album.php?aid=271729&id=514369506&l=c896c06487

E o que mais? Bom, aí temos as novidades administrativo-burocráticas. Uma delas é que compramos um carro. É um Ford Focus, 2002, com alguma rodagem, mas com todos opcionais, inclusive piloto automático. Agora, compradores de carro, matem-se: custou U$3.500. Claro que o carro tem algumas coisa pra fazer, como trocar os pneus dianteiros, mas o preço é ridículo. Falando em preço ridículo, agora vem outra: fizemos a carteira de motorista do Arizona. Quanto? U$10, com direito a fazer a prova 3 vezes em caso de falha. E se você passar em tudo no mesmo dia – prova teórica e prática - já sai de lá com a carteira na mão.

Mas, claro que nem tudo são flores, como o tiroteiro de Tucson inequivocadamente ilustra. E, além do imperfeito, tem ainda o estranho, o curioso, o detalhe cultural que, independente de julgamentos sobre benefícios e malefícios, surge no dia a dia. Nesta linha, dois fatos valem a pena ser comentados.

Um são as quinquilharias que esses americanos criam (e que alguém deve comprar). Tem escada para cachorro subir na cama ou no sofá do dono; tem cobertor com buraco dos braços para a pessoa ficar assistindo TV e comendo com todo conforto; descascador de banana; e óculos com luz de leitura embutida. Ler os catálogos ou visitar as lojas que vendem esses “gadgets” é praticamente uma sessão de comédia.

Outro fato cultural é a impressionante ligação que eles têm com as universidades. Elas funcionam não somente como centro intelectual, mas como centro tecnológico, social, e econômico das cidades – pelo menos das cidades médias e pequenas. Boa parte dessa ligação é mediada pelos times esportivos dessas instituições. Em nossa volta da Carolina do Norte, pegamos um vôo cuja metade dos passageiros estavam indo assistir a final da liga de futebol americano universitário entre Auburn e Oregon (a final este ano foi em Phoenix, capital do Arizona). Parecia excursão pra Porto Seguro. Gritaria, piada e até gente bêbada. Nem preciso dizer que o estádio estava lotado. Ah, e para dar uma noção da importância da relação esporte-universidade, sabem quem é o salário mais alto da Universidade do Arizona??? O técnico de futebol americano.

Além dessa ligação mediada pelo esporte, os americanos mantém laços afetivos com outros aspectos das instituições onde eles se formaram. No evento de celebração dos 125 anos da Universidade do Arizona, tinha turma da década de 60 se reencontrando (vindo de outras partes do país para o reencontro). A Universidade, que já é bonita, teve seu jardim retocado à perfeição. Teve desfile de carros antigos, cheer leaders coerografando, reitor abanando pro público, distribuição de brindes e comida assim como comoção da platéia que acompanhava as músicas e os gritos comandados pela banda marcial da universidade. Tinha até as cheer leaders antigas reaparecendo triunfalmente (com um pouco mais de pele e rugas, claro), todas orgulhosas de seus uniformes vintage. Um dos resultados dessa contínua ligação entre universidade e aluno é que uma quantidade substancial dos graduados segue usando adesivos, moletons, bonés, torcendo pelos times, e fazendo doações (ou vocês acharam que tinha ponto sem nó nessa história?) para a universidade vida a fora. Tem também aqueles anéis “maravilhosos” que muitos graduandos recebem ou compram para estampar diariamente parte de seus feitos acadêmicos. Fotos do desfile mais americano que já presenciei aqui (copiar e colar link no navegador): http://www.facebook.com/album.php?aid=271735&id=514369506&l=7c2b8d87f6

E, falando em universidade e estudos, esta semana recomeçam nossas aulas. A Sibele segue nos 3 cursos de inglês. Eu farei cursos de modelagem estatística, aspectos sociais e culturais do consumidor e técnicas avançadas de pesquisa social. Agora, é “sem tirar” até meados de maio. No verão, eu já ensinarei um curso intensivo, provalmente Introdução a Marketing. Só espero que até lá meu grau do óculos permaneça o mesmo...

sábado, setembro 18, 2010

Com calor, mas vivo em Tucson - relato 1


Hey, hey, hey, sim, sim, sim, ainda estou vivo.

Um pouco mais moreno, um pouco mais grisalho, mas vivo. Então, é com prazer que lhes escrevo o primeiro relato dos EUA. E este tem direito a método e tudo, já que agora sou um aspirante a pesquisador e passo a ter que administrar esta deformação profissional. Bom, na verdade, agora são duas deformações: a do administrador, que é ficar muito crítico a respeito de toda empresa da qual ele é cliente (coisa chata é ir com um grupo de administrador em um restaurante... Eles - eu junto - ficam reparando em todos os erros cometidos pelo lugar e sempre acham que estão pagando caro demais por aquilo); e a do pesquisador.

Mas, chega de desvios e vamos ao que interessa. E qual foi o método usado? FAQ, frequent asked questions, ou perguntas mais frequentes :-). Talvez a sua esteja ali.

O que você foi fazer aí mesmo (começando pelo básico, ou, como diria o pessoal da Dell, colocando todos na mesma página)?
Servir de mula na fronteira e, nas horas de fogta, PhD em Marketing (o primeiro é brincadeira, claro, mas fico feliz em saber que o sol ainda não queimou meus neurônios do senso de humor).

É quente mesmo?
Senegal é fichinha. E isso não é força de expressão. Falando com uma estudante senegalesa, ela disse que, por ser perto da costa, o Senegal chega a ser fresco comparado a Tucson.

E a cidade como é?
Mais ou menos. Tem partes bem feias, que lembram mais uma cidade sulamericana mediana – bairros residenciais pobres, estabelecimentos comerciais caidinhos, calçadas judiadas, etc. – e partes bonitas - centro, zona de compras, universidade. Tem também 2 Outlets há 1 e a 2h de carro, o que sempre conta a favor na percepção geral da cidade :-).

E a universidade?
Uma ignorância. Tudo do bom e do melhor. É outra cidade dentro de Tucson. Tem sistema de transporte próprio, paisagismo irretocável, shopping (com praça de alimentação, livraria e outros serviços), biblioteca 24h, hotel e estádio, entre outras facilidades. Algumas fotos dos lugares por onde mais passo estão aqui: http://www.facebook.com/album.php?aid=206234&id=514369506&l=1268034233

E o departamento de marketing?
Tem gente de peso mesmo e essa parte não tem preço. Ter aulas e poder “trocar uma idéia” com autores de alguns dos artigos mais influentes do marketing, segundo os “journals” da área, é, no mínimo, estimulante. Um dos professores (Sidney Levy), por exemplo, escreveu junto com o Kotler os primeiros artigos sobre os primeiros conceitos de marketing e a abrangência da área.

E o curso?
Suado. Estou fazendo 3 disciplinas completas (Teoria de Marketing, Métodos Quantitativos Básicos e Teoria da Sociologia I) e uma meia disciplina (Colóquio de Marketing). Dá umas 10-11 horas de aula por semana - o que é bastante humano - mas não dá menos de 30 de trabalho por fora. Em média, até agora, tenho lido aproximadamente 400 páginas por semana. Como, além disso, ainda trabalho como Assistente de um Professor Sênior, já viram que o bicho está pegando. Meu custo de oportunidade não é medido mais em dinheiro, mas em “quantas páginas eu poderia estar lendo agora, em vez de estar na merda da fila desse supermercado”.

E a vida universitária americana?
De tão parecido com os filmes chega a ser engraçado. Os pais vêm conhecer a faculdade com os filhos e ajudam-nos com a mudança; tem ensaio de cheer leader; tem armário pros estudantes; tem aquelas salas grandes em formato de auditório pras aulas com muitos alunos; tem as fraternidades dos Lambda-Lambda, do Delta-Sigma, do Alfa-Beta-Gama e do Pi-Pi-Pi. Aliás, tem tantas que tive que descobrir a origem de tanta criatividade. A versão que ouvi é a seguinte: as fraternidades criam seus slogans ou nomes (por ex.: Unidos Venceremos); então, eles convertem este nome para o grego e depois pegam apenas as iniciais gregas dessas palavras. Assim, são criados os interessantes nomes das fraternidades.

E a casa está montada?
Logo notei que uma casa – pelo menos para um dos componentes do casal :-) – nunca está pronta. É um projeto sempre em andamento. Então, talvez o mais adequado a dizer seja “sim, a casa está bem habitável e supre as necessidades básicas de seus moradores”. Fotos do condomínio aqui e da caminha diária até o bus aqui.

Já compraram carro?
Ainda não. Tucson, por ser uma cidade universitária, conta com um sistema de transporte razoável. Os ônibus não são tão frequentes quanto se gostaria, mas quando aparecem têm lugar pra bicicleta, ar-condicionado e são pontuais. Como complement, ainda oferecem "entretenimento". A quantidade de louco que anda de ônibus é impressionante. É uma fauna. O mais certinho acha que era assistente de Napoleão. E tem aquelas figuras que sempre pegam o bus no mesmo horário que você, como o Gago Pegador - um carinha que sempre pega uma guria pra conversar sobre música e vai tentando articular seus pensamentos, que não passam de 1 por minuto - e a Comedora de Gelo - uma senhora que carrega sempre um copão de Coca-cola cheio de gelo e vai devorando as pedrinhas durante a viagem.
Mas, enfim, espetáculos à parte, dá para depender desse tipo de transporte para o feijão com arroz (casa-universidade-casa), mas fica mais complicado para se fazer compras e dar uma passeada no final de semana. Começamos a procurar carro há uns 10 dias, mas tem sido um pouco mais difícil do que o esperado. Claro que é absurdamente mais barato do que no Brasil. Tem Honda Civic e Fit zero por U$16.000, tem BMW usado por U$10.000, tem Corolla usado por U$8.000, tem Jaguar 2004 (uma loucura aquele carro) usado por U$16.000. Tentadores, mas a idéia é comprar um carro compatível com o padrão de vida de estudante, ou seja, mais barato do que isso, para não mexer nas economias do Brasil. Vamos ver. Mas, se for para se perder na curva, aquele Jaguar que me aguarde :-PPPP. Se for para ser pobre e quebrado, que seja com classe hehe.

Já passearam?
O foco neste momento, até por não termos carro (ah, aquela Jaguar), está na cidade de Tucson mesmo, que tem algumas coisinhas para ver. Ainda faltam o zoológico, o museu do deserto, a Biosfera (uma enorme aldeia patrocinada pela universidade para o estudo de plantas e animais. É como uma grande estufa, isolada, onde foram introduzidas espécies para estudo) e outros pormenores. Mas, no feriado do trabalho (6 de set), fomos ao magnífico Grand Canyon. Passeio obrigatório para quem passar pela região. Iguaçu dá de 10 em Niágara no quesito “ignorância da natureza”, mas o Grand Canyon também surra o Itaimbezinho no mesmo quesito. E tem Sedona no meio do caminho, que é uma - com o perdão dos machões pelo adjetivo afrescalhado - graça. Uma Gramado no velho oeste. Fotos aqui.

E a Sibele o que está fazendo?
As aulas de inglês começaram dia 13/set. Ela fará curso numa escola de segundo grau e na biblioteca da cidade, o que dará 4 dias de aula por semana. No mais, está se saindo uma ótima gerente da casa :-)

E comida no Arizona?
Tem bastante restaurante étnico por aqui. Por convite, andamos tendo algumas experiências orientais até interessantes, mas ainda ficam na categoria de “de graça, é só chamar”. Tem também uma sessão brasileira num mercado asiático da cidade. Encontra-se farofa, erva-mate, pão de queijo e outras iguarias importantes para um momento de crise de abstinência.

E os novos hábitos?
Filtro solar todo dia antes de sair de casa, garrafa d’água sempre na mochila e almoço americano. Tem muita aula e mini-reunião no horário de almoço, é como se comer naquele horário fosse opcional. Tem sido inevitável adotar um almoço leve e rápido.
A coisa mais absurdamente barata que compraram?
Temos candidatos fortes.
- Na categoria valor absoluto (barato sob qualquer ângulo): um criado-mudo por U$7;
- Na categoria valor relativo (barato se comparado ao Brasil): uma impressora multifuncional Wifi por U$49 e roupa da Tommy por U$20. Mas a impressora e as roupas só estão aqui porque não comprei aquele Jaguar... Ah, aquela panterinha na frente do carro, ainda vou dar um jeito nisso para não desenvolver fixação. Malditos marketeiros desenvolvedores de símbolos de desejo :-)

Um grande abraço a todos vcs! E mandem as novidades também!